domingo, 13 de julho de 2008

70.

Foto de M

Será a ausência um contorno por preencher?
M

17 comentários:

Teresa David disse...

Talvez, mas pessoalmente não acredito pois tenho a vida povoada de ausências que se tornaram completamente insubstituiveis, restando apenas o vazio dentro de mim que esse sim, tento desesperadamente preencher através de mim própria!
Bjs e bom Domingo
TD

Eremit@ disse...

ou um sinal de que temos que mudar e seguir?
Escolho a 2ª opção. Doi mas faz-me mais sentido naquilo que creio ser a vida.
Obrigado por teu comentário. ando muiot ausente, ams sabes as razões que em ocupam o tempo e limitam por aqui nestas viagens e viragens de olhares e seduções.
fraterno Abraço. E.

M. disse...

Teresa e Eremita:

Em nenhuma das vossas observações encontro o que eu quis dizer.
A minha reflexão tem a ver com isto: preencher um contorno dará corpo à ausência tornando-a assim de novo real e ao alcance dos nossos sentidos? Seja essa ausência a de alguém ou a de momentos vividos. Este meu pensamento não tem a ver com substituições nem com mudanças. Uma ausência tem corpo próprio insubstituível, vive por si, só precisará que lhe preenchamos o contorno com a "massa" de que é feita e que lhe pertence. Bom, seja como for, tenho dificuldade em exprimir a minha ideia.. Não sei se ficou mais clara...

Patanisca disse...

Peço desculpa se fui deselegante por me intrometer na vossa conversa sem ser para aqui chamada.

Suposto que estou desculpada, partilho então a minha opinião.

Olhando para a cadeira do jardim duas coisas, entre infinitas alternativas, podem ter acontecido.

1) A M., ou alguém que lhe é próximo, comprou a bela cadeirinha e colocou-a ali no viçoso jardim;

2) Alguém que era próximo de M., ou do seu círculo de amigos, esteve ali sentado (talvez com alguma frequência)e agora já não está, e é provável que nunca mais volte a estar.

No primeiro caso, não há ausências. Se eu desenhar um contorno, crio ali uma figuração e estamos perante uma expressão artística. Não há presentificação de nada, somente re-presentação. No segundo caso, não: está ali presente uma ausência e só neste caso se pode colocar a hipótese de M.: Será que se "preencher um contorno dará corpo à ausência tornando-a assim de novo real e ao alcance dos nossos sentidos?".

A minha resposta é sim e não.

Se entendermos corpo como algo sujeito às leis da física e, portanto, e emitir ondas ou corpúsculos capazes de estimular os nossos sentidos, talvez sim. No fundo, no fundo, qualquer corpo ausente está gravado no nosso cérebro como um membro fantasma, que posso ressuscitar sempre que estimule os nervos adequados.

Se entendermos corpo em sentido biológico ( e por conseguinte em sentido ontoantropolócico ), então é não. Neste caso, o corpo é apenas um feixe de relações que não nos podem ser dadas pela definição de um contorno.

Se M. chama massa ao que eu designei por feixe de relações, tudo bem, então podemos dar corpo de novo aos sentimentos e emoções passadas. A isso chama-se saudade, um sentimento que dá felicidade provocando tristeza.

Estou a desenvolver estas ideias porque é assim que sinto. Mas baseio-me, com a segurança que isso dá, nas eduções do meu meu mestre Rodrigo Rodrigues, o Perdido, que muito me ajudou a compreender o meu corpo.

Gostaria de transmitir algum conforto à Teresa David garantindo.lhe que as ausências não são vazios, mas plenitudes passadas. Isto era uma coisa que eu gostava de saber explicar melhor mas não sou capaz.

Claro que na vida temos que ser capazes de ganhar coragem e seguir em frente. isso não significa que tenhamos que nos esquecer do que está ausente.

Bem... se calhar, só compliquei. mas, se algumas destas palavras reconfortar alguém, fico muito feliz.

Beijinhos.

Desculpa de ter sido tão longa.
:))

M. disse...

Patanisca:
Estás à vontade para dizeres o que te apetecer.
De mim, o que aqui vou escrevendo neste blog são apenas reflexões caseiras com muitas perguntas e dúvidas pelo meio acompanhadas de metáforas.

Maria Laura disse...

Só me parece que, se o sentido de "preencher" é, de algum modo, transformar a ausência em presença, isso é potencialmente impossível e frustrante. A ausência existe. E o contorno só pode tornar-se real e trazer conforto dentro de nós. Por isso nos é dado recordar.

mena maya disse...

As ausências deixariam de o ser se fosse possível prenche-las. Têm como dizes, Manuela, corpo próprio insubstituível.

Muitas estão adormecidas dentro de nós e damos pela sua presença sempre que algo ou alguém nos faz lembrar, outras há que vestimos como uma segunda pele...

Justine disse...

Quem dera que todas as ausências pudessem ter contornos para preencher...
Sugestiva e bela, a tua foto, abrindo tantos caminhos

Manuel Veiga disse...

esteticamente é perfeito!...

(e julgo ser nesse plano que colocas a questão)

a "ausência" será assim o mínimo de linhas que a defina...

gostei muito.

encena_dor disse...

Venha conhecer o meu blog. Espero que se divirta.

bettips disse...

Porque mesmo lendo-te (e já o tinha feito) não sei se te entendo. Só a memória "preenche" um contorno; e para mim, as ausências são insubsituíveis.
Bj

Sonia Sant'Anna disse...

Seu post veio a calhar, pois ontem estive com uma amiga que convive há anos com uma ausência. E contou-me uma linda história a respeito dela mesma e de como a ausência se transforma para ela em presença. Ai, ai, palavras são tão pobres diante do que se queria dizer...

Anónimo disse...

Com ou sem contornos gosto da cadeira. Era capaz de escrever um conto só com esta cadeira...

Anónimo disse...
Este comentário foi removido por um gestor do blogue.
rui disse...

Olá Manuela

Poderá o contorno de uma recordação ou de uma saudade, preencher uma ausência?

Grande abraço

Frioleiras disse...

ausência será...
um sentir a alma
sempre
encharcada...

ou poderá ser ...
um sentir sempre alguém
invisível
ao nosso lado,
sempre......


(abraço-te, querida m. e .....compreendo-te...tão bem!)

Anónimo disse...

Sera mesmo a ausencia um contorno por preencher?
ou sera que vive ja nela propria, o seu contorno? O seu proprio preenchimento?

Mesmo que nunca venha a descobrir, o que hoje sei, e que tudo tem um contorno, mesmo que cheio ou vazio.