quinta-feira, 30 de outubro de 2008

84.


Foto de M

Foi com esta fotografia que participei no Fotodicionário desta semana no Palavra Puxa Palavra. Assim interpretei a palavra “Saúde”, pensando em três dos seus vastos e possíveis aspectos.
A saúde do corpo que nos permite liberdade de movimentos e de construção de vida em todas as suas facetas humanas.
A saúde mental que nos faculta a lucidez necessária para agir de modo mais consentâneo com a nossa vivência como verdadeiros seres humanos. Ou que, mesmo em situações extremas de desamparo, frustrações ou desgostos, nos oferece a capacidade de ver e sentir as cores do mundo tornando-nos assim menos sombrios.
A saúde a que chamo social e que depende das políticas que os governos de cada país tomam com verdadeiro empenho pelo bem-estar dos seus cidadãos.
Depois, será com maior motivo de regozijo que, em conjunto, poderemos erguer os nossos copos e exclamar: Tchim! Tchim! À nossa!
M

domingo, 26 de outubro de 2008

Texto com que participei no 7º Jogo das 12 Palavras no blog Eremitério

Foto de M

Um bailarino, uma bailarina, e o gesto partilhado de música dançada abrindo luz na escuridão de um palco de teatro.
Na sala, entre a assistência, flutua a liberdade que o prazer dos instantes oferece a cada um de modo diverso, mas quer-se arredado do lugar o galanteio falaz dito em surdina ao ouvido do sentimento vago. Desejamos mais do que o esforço inútil gasto em palavras frívolas, desejamos mais do que capitulação atrás de capitulação. Dos outros e de nós mesmos. É no silêncio do olhar puro que nos tocamos em sintonia apetecida. Talvez breve, sim, talvez breve o encontro, mas que importa a sua brevidade se a harmonia existe naquele momento de Arte, vivida assim a experiência humana da essência das coisas?
M

7º Jogo das 12 Palavras no Eremitério

(As 12 palavras de uso obrigatório eram: Bailarino/a, Capitulação, Escuridão, Esforço, Falaz, Galanteio, Gesto, Harmonia, Liberdade, Luz, Sentimento, Sintonia.)

quarta-feira, 22 de outubro de 2008

83.






















Foto de M


Íntimo. Lugar de coisas. Lugar de nós mesmos, seres que se reconhecem e igualmente se estranham, que se aproximam ou se distanciam de tanto se sentirem e pensarem. Ninho de pássaros. Voos amplos, alguns, perdidos outros, quebrados os bicos dos pássaros nos gritos lançados ao vento. Águas mansas de azul puro abrindo os silêncios das flores em botão nos jardins. Vulcões estilhaçando espessuras, vomitando lava, queimando a vida. Palavras trancadas em paralisias várias, morrendo-lhes desarticuladas as sílabas dentro da própria boca. Nem sempre. Há palavras que renascem da morte e pousam no tempo de espera. Como borboletas.

Mistério este de viver paredes meias com um ser de nome Íntimo que apenas comunica comigo através de mim.
M

domingo, 5 de outubro de 2008

82.


















Foto de M

Neste silêncio de música em lugar de sombras e luz, como é bom recordar-te, mulher de vida calada que vendias as pevides e os tremoços da minha infância, sentada num canto do mundo!

Assim senti esta minha fotografia em tempos idos. Volto hoje a olhá-la. Por causa do que começa e acaba em cada instante e do que nos oferecemos a nós próprios entre um pensamento e outro. O fim e o princípio das coisas em diálogo renovado na presença dos lugares de sempre. Hoje é o gesto musical de festa adivinhado por detrás do silêncio dos instrumentos que se sobrepõe à imagem da mulher que vendia as pevides e os tremoços da minha infância. Assim recostados num tempo de pausa, e quase em jeito de gente, são rebentos de memórias num canto do meu mundo.
M