segunda-feira, 12 de janeiro de 2009

90.

Foto de M

Loneliness. Dei comigo a dizer a palavra baixinho enquanto discorria sobre o desvario do mundo colado aos ecrãs de televisão de nossas casas. Porquê em inglês? Talvez por causa dos momentos em que a língua materna nos magoa tanto ao falar do que nos entra na alma que preferimos ignorar a sua voz e usar uma outra que nos é mais estranha. Ou então, pelo contrário, de tão aturdidos pelo absurdo da violência que nos rodeia e nos faz sentir perdidos de nós e dos outros, procuramos palavras que nos unam no desamparo universal e nos apazigúem o medo da solidão interior. Não aguentamos sozinhos a mágoa do mundo nem a sensação de impotência perante a insanidade de governos e povos, sejam eles quais forem.
Loneliness, uma palavra de solidões.
M

domingo, 4 de janeiro de 2009

89.


Foto de M

Nesga. Palavra limitada, estreita? Não, poderá não o ser, pois que é também promessa de curiosidades e incógnitas, quiçá intrépida. O que mostra nem ela sabe, apenas contém o olhar de quem a atravessa, sejam breves ou longos os instantes de passagem. É apenas um pequeno espaço de silêncios para os muitos olhos que nela pousam pelos caminhos de ver. Pois, íris pigmentadas, com flores ou céus azuis dentro, borboletas, ou até pássaros, para quem lhes ouve o canto e lhes segue o voo. E a tal pupila a que chamam menina-do-olho, nome bonito, uma questão de infância e de perguntas balbuciadas, quem sabe. A preservar a candura e o riso entre as pálpebras. Indispensável. Por causa da memória, por causa de todos nós, por causa do mundo, por causa da paz. Por causa da própria nesga, que afinal parece ser tanta coisa.
M