quarta-feira, 18 de abril de 2012

Porque a Bettips gosta muito de oliveiras, um segundo presentinho que lhe ofereço, retirado do meu baú das memórias


Contrastes
(Foto de S.)

Afastamento

Até a tua sombra me foge na distância de um abraço impossível.

M

(22 de maio de 2005)

Porque a Bettips gosta muito de oliveiras, um presentinho que lhe ofereço, retirado do meu baú das memórias


As contorcionistas
(Foto de S.
)

No Jardim

O Passarito poisou em cima da oliveira com uma ideia muito maluca dentro da cabeça: queria ter asas azuis da cor do céu!
– Mas tu tens umas asas tão bonitas, meu pequerrucho! – disse-lhe a mãe, empoleirada a seu lado. – Que ideia a tua de quereres ter asas de outra cor!
– Mas eu quero – respondeu o Passarito. E começou a fazer uma birra, abanando muito a cabeça de um lado para o outro, e abrindo e fechando o bico, como se quisesse gritar. ­– O céu não está longe, podemos muito bem ir lá buscar azul para eu me pintar.
– Está muito longe – disse a mãe, ao mesmo tempo que metia com suavidade o bico entre as penas acinzentadas do filho. Era a maneira de ela lhe fazer festas. – As tuas penas são lindas!
– Mas eu agora quero ser azul! Tu não percebes nada! Não estás mesmo a ver?...
– A ver o quê?! – A mãe olhou para ele admirada.
– Eu quero enfeitar esta árvore. Já viste como ela é? É cinzenta, mamã... Com estas minhas asas ficamos iguais, da mesma cor não tem graça nenhuma! É preciso explicar-te tudo!...
– Ah, então foi por isso que acordaste com essa ideia maluca! – respondeu a mãe. – Mas... achas que o azul é a melhor cor para enfeitares a oliveira? Anda cá, vamos voar até àquele raminho mais abaixo e tu olhas com atenção para cima...
– Para quê? Já disse que gosto de azul, e só do azul do céu! – E, como estava muito zangado, bateu as asas com tanta força que se desequilibrou e foi pelo ar a voar aos trambolhões. Estatelou-se no passeio, escorregou, mas depois lá se endireitou. E olhava para todos os lados, um bocadito envergonhado.
– Que grande voo! Até parecia que estavas a ser empurrado por alguma tempestade! – A mãe poisava agora no chão, a seu lado.
Entretanto, os pombos que por ali andavam em busca de grãozinhos de milho miravam e remiravam o Passarito, muito espantados, sem perceberem como é que ele, sendo tão pequenino, era tão refilão e fazia tanto barulho. Só o ouviam piar, piar... E eles que gostam de comer sossegados! Passam a vida de um lado para o outro, com aquelas asas compridas que me lembram o fraque que o pai da minha amiga Beatriz veste para ir a casamentos.
– Então, já passou a birra? Apanhaste um susto com esse trambolhão, não foi? – A mãe chegou-se mais para junto dele e disse-lhe baixinho: – Olha para o céu. Estás a ver o que acontecia se as tuas asas fossem azuis? Repara bem!
O Passarito levantou a cabeça, um bocado contrariado, claro, e espreitou lá para cima.
– Não achas que quem olhasse cá de baixo via tudo azul? - perguntou a mãe. - Ninguém reparava em ti... Vamos pensar numa outra cor... Que tal um amarelo?
– Amarelo?! – Ele não estava lá muito convencido com a ideia da mãe.
– Sim, o amarelo daquelas folhas caídas sobre a relva ali ao fundo... É tão bonito! – sugeriu ela.
– Oh, esse já não está amarelo, está quase castanho...
– Achas? Pois eu acho-o lindo. Até tenho encontrado aqui um homem a apanhar folhas iguais a estas e a guardá-las dentro de um carrinho de rodas. E é muito engraçada a vassoura com que ele varre a rua...
O Passarito olhava para a mãe, olhava para as folhas, olhava para o céu, voltava a olhar para a mãe... Parecia indeciso, mas como era um bocadinho teimoso...
– Então e como é que eu faço? – perguntou por fim, baixinho, porque não queria que os pombos o ouvissem. Depois daquela birra de há pouco era uma vergonha. – As folhas estão secas e partem-se se eu lhes tocar...
– Vamos fazer assim: continuas com as tuas asas, que são lindas...
– Mas tu disseste...
– Espera, tem calma! Ficas na mesma com as tuas asas acinzentadas e eu escolho uma folha das mais bonitas, grande, e seguro-a na tua cabeça, como se fosse uma coroa. Achas bem?
– Mas... como é que se segura? – O Passarito começava a pensar que a ideia da mãe talvez não fosse de desprezar.
– Vamos procurar um fiozinho, daqueles que às vezes andam por aí... Nunca reparaste que algumas pessoas atiram coisas para o chão? Olha, ainda ontem vi uma senhora deixar cair um cordel no passeio. Quando abriu o saco do milho para os pombos e meteu a mão dentro... ele escorregou. E era encarnado! Ficava mesmo bem a segurar a coroa... Que te parece?
O Passarito abriu muito os olhos e, sempre aos saltinhos, procurou, procurou, até que encontrou o que queria.
– Encontrei um! – Ele estava agora muito contente.
– E eu descobri esta folha linda, olha! Vais parecer um príncipe! – E a mãe, pegando cuidadosamente na folha com o bico, prendeu-a com o fiozinho encarnado à cabeça do filho.
– Estou bonito? – perguntou o Passarito.
– Estás lindo! – disse a mãe, toda vaidosa.
– Então e agora? – Ele não parava de fazer perguntas.
– Agora já podes voar até ao cimo da árvore. Com cuidado… – E ficou a admirá-lo, enquanto ele subia até ao ramo mais alto da oliveira, devagarinho para não estragar a coroa.

M

(31 de maio de 2005)

domingo, 8 de abril de 2012

PROVÉRBIOS FOTOGRAFADOS - 16


Foto de M

«Asado é o pau para a colher»

Rifoneiro Português por Pedro Chaves (2ª edição), Editorial Domingos Barreira