terça-feira, 30 de julho de 2013

192.


Foto de M 
   
O rosto da mulher era muito belo e delicado, a lembrar as Madonnas pintadas por Botticelli. Inerte, o olhar calado fixo no chão, segurava numa das mãos um copo de plástico com duas ou três moedas escuras perdidas no fundo, o braço estendido como se não lhe pertencesse. A menina, quase imóvel ainda que desperta, procurando apenas de vez em quando posição mais confortável, mais parecia fazer parte daquele corpo colado ao passeio de distante praça cosmopolita.
Perguntei-me como era possível que uma criança tão pequena – teria cerca de três anos? - se mantivesse assim quieta durante os trinta minutos em que a observei do alto do assento da camioneta em que eu viajava, estacionada por breves momentos à espera de outros passageiros.
Talvez o colo. Sim, talvez fosse o aconchego do colo que a faria esquecer o desassossego da infância. Apesar do que certamente lhe faltaria. E por causa disso.
M