quinta-feira, 7 de maio de 2015

215.


Foto de M 

Debalde foi ali pousado o balde em descanso temporário, pensado como sendo de bom préstimo para quem regasse a horta ou arrecadar nele os legumes colhidos pela manhã. Mas qualquer coisa deve ter corrido mal. Alguma embirração com o seu aspecto antiquado e enferrujado, ou preferência por balde de plástico garrido comprado na feira mensal, talvez uma represália, e vá lá saber-se o motivo, nas aldeias é comum sobreporem-se as vindictas à natureza pura da terra. Em vez do estado de provisória quietude na beira do tanque, passou o balde ao estado de abandono vitalício, ainda por cima taparam-lhe a boca, nem gritar ele pode, coitado. Suplício supremo, penso eu, quase o de Tântalo. 
M

4 comentários:

Manuel Veiga disse...


talvez algum coleccionador de raridades o recolha, como vestígio de um tempo, sem tempo, em que os deuses habitavam as coisas singelas!...

beijo

Justine disse...

Mais uma belíssima foto, e mais uma divertida humanização de um objecto simpático e útil!!

Unknown disse...

Gosto das considerações que vai tecendo e, por fim, nos metendo em suas malhas...
Quem sabe, o dono do balde, apenas, tão desgastado quanto ele, até sofra o suplício de Tântalo, por o saber ali tão perto e não poder fazer o uso que dele fazia, ou talvez tenha partido, de vez, para lugar onde os baldes enferrujados, ou de plástico, já não têm serventia.

bj

Licínia Quitério disse...

E permanece, imóvel, talvez intocado.