terça-feira, 1 de agosto de 2017

240. O MEU PÁSSARO - Dia 10


Foto de M 

Um livro com uma capa lindíssima, não é, Meu Pássaro? Julgo perceber o teu interesse por ele. De certeza que reconheceste alguma semelhança com paisagens onde esvoaçam penachos brancos que se soltam dos dentes-de-leão pelo sopro do vento e nos encantam pela leveza.
Este dicionário pertenceu à minha Tia Chanel. Curiosa como era, usava-o constantemente, em busca de resposta para as suas dúvidas sobre os significados das palavras. Bem me lembro de a ver manusear as páginas com muito cuidado e de me mostrar as gravuras que, nalguns casos, identificam as palavras e as complementam, outras vezes apenas pelo gosto de observar os seus traços finos e minuciosos. E também não esqueço que nem ela nem os meus Pais me poupavam quando eu, por preguiça, aliás frequente nas crianças nos primeiros anos de escolaridade, tentava obter junto deles o sentido de determinada palavra ou frase. A resposta era invariavelmente: Procura no dicionário. Não este, claro, só aprendi francês no liceu, uma língua lindíssima que me toca em particular. Não sei se foi por causa do hábito, se algum gene herdado, se a frase da Librairie Larousse na edição de 1931 Je sème à tout vent, ou tudo isso junto, que tenho a mania de me apoiar em dicionários para tentar exprimir o melhor possível o meu pensamento. Ainda por cima o acesso à Internet veio agravar esta minha doença crónica. Que diria a minha Tia Chanel se fosse viva? Ela que, tendo nascido em 1894 e morrido em 1988, costumava dizer com alguma ironia Nasci no século passado.
 
M

2 comentários:

Isabel disse...

O Dicionário parece ser realmente um livro muito bonito. E está estimado.

Também me apoio muito no dicionário. Tenho-o sempre à mão, até porque , eu que nunca dei erros ortográficos, agora dou comigo a duvidar na escrita de algumas palavras - o acordo ortográfico trouxe-me esta confusão, porque na escola, com os miúdos, tenho que escrever de acordo com o acordo (!) , mas de resto, escrevo sempre na grafia antiga.

A tua tia Chanel devia ser uma pessoa interessante e chegou a uma bela idade!

Beijinhos:)

Anónimo disse...

A minha cabeça, de tão rodada que é, fica à roda com esse passarito e de como fala das coisas à volta.
Os livros, companhia de tantas viagens e vidas, fazem-me crescer água na boca. O velho dicionário e a tia de mil ideias, trejeitos, de nome esquisito (e bonito) fazem-me lembrar que "quando não tinha que ler, lia o Dicionário"!.
E, uma vez, não soube o significado de uma palavra, na aula de Português, no 2º ano do Liceu: "incomensurável". Mas como sabia tantas coisas outras, tive um prémio da professora: "Lâmpada que não se apaga" de Mme Curie.
Quanto ao Francês, que se enrola nas nossas músicas como música: il faut l'entendre avec le coeur pour l'aimer.
Bjs
B