quarta-feira, 22 de outubro de 2025

«Para que conste»...

Foto de M 

Éramos um grupo de dez amigos que costumavam juntar-se mensalmente para jantar. Cada mês sua casa, levando cada casal comida para partilhar com os outros. Chegava tudo pronto, bastava aquecer o que fosse preciso aquecer e pôr na mesa juntamente com o que mais houvesse. Os donos da casa ofereciam também água, vinho, café ou chá. Chamávamos Jantar de Vagabundos a esses encontros. Como podem imaginar, a ementa era variada, e nalguns casos requintada, porque havia quem cozinhasse muito bem. No fim das refeições, cada casal levava consigo a sua parte do que tinha sobrado. Nesta noite de março de 2006 em que fomos os anfitriões, a mesa ficou como se vê na fotografia, naquela confusão à mistura com risos e histórias. Depois se retiraria tudo, não havia pressa. Regressados todos a suas casas, escrevi uma acta com o relato pormenorizado do encontro: as indumentárias, as ementas, as conversas, os disparates, intercalando fotografias elucidativas no texto. E «para que conste», no encontro seguinte, o «documento» foi lido e assinado por todos e entregues as cópias, tornando-se mais um motivo de divertimento por causa do que lá se contava.

M

domingo, 19 de outubro de 2025

Leveza

Foto de M

terça-feira, 14 de outubro de 2025

Quando o longe se faz perto

Foto de M

Há alguns anos, estivemos na Croácia com um grupo de portugueses acompanhados por um guia. Durante uma semana, deslocámo-nos em autocarro, de Dubrovnik a Zagreb. Trogir foi uma das cidades que visitámos, ficando o autocarro estacionado fora do centro.  Quando, ao fim do dia, regressámos ao parque de estacionamento para seguir viagem, o motorista apercebeu-se da impossibilidade de sair dali. Alguém tinha arrumado o seu automóvel deixando-nos sem espaço suficiente de manobra. Resolveu-se o problema: quatro ou cinco dos nossos companheiros juntaram-se ao motorista e, usando toda a sua força masculina, assentaram as mãos na parte debaixo do dito automóvel, levantaram-no e pousaram-no noutro lado. Rimo-nos todos com a aventura e perguntámo-nos o que teria pensado o dono quando o foi buscar e o encontrou de esguelha num sítio diferente.

M

terça-feira, 7 de outubro de 2025

Caminhar sobre o passado no presente







 

Fotos de M

Foram umas miniférias passadas em Coimbra e arredores para reconhecer lugares há muito tempo não visitados e outros para conhecer pela primeira vez. Três dias especiais em que nos apeteceu fazer o Jogo das Diferenças que entusiasma crianças e adultos, mas não foi preciso assinalá-las em papel desenhando um círculo onde necessário fosse. Não usámos lápis nem papel, bastaram-nos olhos atentos, uma máquina fotográfica e o prazer imenso de descobrir. Em Conímbriga, a pequena distância da área das ruínas, onde novas escavações vão acontecendo, encantámo-nos com o Passadiço do Rio dos Mouros. Não sabíamos da sua existência. O rio já era conhecido dos romanos quando se fixaram ali e dele retirariam a água de que necessitavam para a vida na cidade. O passadiço é recente. Inaugurado em 2023, acompanha o rio entre vegetação belíssima e carreiros de terra batida com raízes a espreitar, troncos cortados sobre os quais apetece sentar, sombras e luz. Que contraste entre estes dois espaços! De um lado, pedras antiquíssimas sobre terra seca a aguardar pelas interpretações de arqueólogos, por associações feitas, pelas reconstruções de paredes passíveis de explicar cada vez melhor a História. Do outro lado, caminhos naturais e um passadiço entre vegetação variada e a limpidez do rio a deslizar. Tão interessante é caminhar sobre o passado no presente!

M

quarta-feira, 1 de outubro de 2025

Uma visita ao Dino Parque Lourinhã

Fotos de M

Tem calma, não queremos entrar nos teus domínios, animal de há milhões de anos! Com essa investida ainda derrubas a sebe do teu território! Não é razão para nos receberes dessa maneira! Estamos aqui apenas para conhecer a tua história e a dos teus vizinhos. Isto foi o que me passou pela cabeça dizer-lhe na ocasião, mas calei-me, sabia lá eu se reagiria com mais violência. E o da segunda fotografia, tão enorme ele era! Nem imagino o que seria para os filhos ter a mãe daquele tamanho. Pelo menos enquanto estivessem em fase de crescimento devia ser assustador se ela se distraísse e pousasse as patas no sítio errado… Ou então, quem sabe, talvez pensassem quando for grande quero ser como a minha mãe. Antes assim, realmente o mais sensato é ter sempre pensamentos positivos e sonhar. Pois foi em 2019 que visitámos em família o Dino Parque Lourinhã, para mostrar às nossas crianças como teria sido o habitat dos dinossauros. São réplicas perfeitas à escala real e bem inseridas na Natureza, mas suponho que, se fossem animais verdadeiros, fugiríamos a sete pés e não seria tão divertido como ver desenhos animados de dinossauros na televisão…

M

quarta-feira, 24 de setembro de 2025

A propósito do livro «Por Quem os Sinos Dobram» de Ernest Hemingway (*)

Fotos de M

Não li o livro Por Quem os Sinos Dobram, mas ainda vou a tempo de o ler. Vi em anos idos, muito idos, um filme de 1943, adaptado deste romance de Ernest Hemingway pelo realizador Sam Wood, com Gary Cooper e Ingrid Bergman. Dele recordo apenas, e mal, a última cena. Lamentável esquecimento. Felizmente tenho lido livros de outros autores, também sobre a Guerra Civil de Espanha, como Linha da Frente, de Arturo Pérez-Reverte. E de que maneira realista este escritor, repórter de guerra durante muitos anos e que aprecio em particular, trata o tema! Baseei a minha escolha da fotografia de Puebla de Sanabria nas suas descrições dos lugares por onde passavam e combatiam os grupos envolvidos na guerra. Não sei se nesta bonita vila medieval houve confrontos entre 1936 e 1939. Contudo, apesar do seu aspecto cuidado, quase intocável, que encontrei em 2016 quando a visitei, julgo possível terem existido ali combates no terreno. Olhando-a, imagino gente à escuta atrás de portas fechadas, olhares assustados atravessando janelas, mãos de armas em riste prontas para contra-atacar e abater soldados-alvos nas ruas. Facções inimigas à mercê do previsto e do imprevisto de uma guerra sangrenta, simultaneamente actores e vítimas. Sábio título o do livro.

M

(*) A minha resposta ao desafio proposto pela Bettips no PPP