quinta-feira, 24 de fevereiro de 2022

REFLEXÔES SOBRE UM DESAFIO PROPOSTO NO PALAVRA PUXA PALAVRA (*) 4.

Foto de M
 
Pico della Mirandola (filósofo)

De Giovanni Pico della Mirandola nunca tinha ouvido falar até agora. Pela informação que encontrei na Wikipedia, fiquei a saber que nasceu em Itália em 24 de Fevereiro de 1463 e “foi um erudito, filósofo neoplatónico e humanista do Renascimento”. Entrou na Universidade de Bolonha aos catorze anos, onde estudou Direito Canónico com o objectivo de seguir a carreira eclesiástica. No entanto, insatisfeito com as matérias unicamente jurídicas, empenhou-se no estudo de Filosofia e Teologia. Viajou em França e Itália, frequentou as principais faculdades de Paris, Pádua e Ferrara e aprendeu latim, grego, hebraico, árabe e sírio. Escreveu várias obras importantes com reflexões sobre a conciliação entre religião e filosofia. Morreu em 1494, aos 31 anos, no dia em que Carlos VIII da França entrou em Florença e expulsou Piero de Médici.

Associei a época em que Giovanni Pico della Mirandola viveu e a sua formação intelectual e religiosa ao Convento de Cristo em Tomar, cuja construção, iniciada no século 12, se estendeu até ao século 18. Para além disso, liguei a perspectiva da imagem recolhida num recanto do Convento com o pensamento humano. O pensamento desdobra-se, esbarra ou não em limites, extravasa épocas, marca presença de modos diferentes, e em lugares diferentes.

M

(*) Na quarta de 4 semanas dos desafios do PPP. Neste mês proposto pela Margarida, baseado no Borda D´Água de Fevereiro.

quinta-feira, 17 de fevereiro de 2022

REFLEXÕES SOBRE UM DESAFIO PROPOSTO NO PALAVRA PUXA PALAVRA (*) 3.

Foto de M

Para Gago Coutinho e Sacadura Cabral, a primeira travessia aérea do Atlântico Sul em Março de 1922 ligando Lisboa ao Rio de Janeiro terá sido a realização de um sonho. Um, cartógrafo ao serviço da Marinha, o outro, piloto com experiência em navegação aérea, os conhecimentos de ambos tornaram possível a viagem e o futuro da aviação em voos de grande distância. A deles no seu tempo, a minha cumprindo em Junho de 2010 um dos meus desejos de sempre: visitar os Açores. O mesmo Oceano Atlântico, as “minhas” ilhas pousadas sobre ele, provavelmente não vislumbradas do alto da rota aérea seguida nessa viagem pelos dois amigos, porque um pouco mais a norte. Para mim, a memória de um lugar que adorei e onde gostaria de voltar. Porque, como escreve Emanuel Jorge Botelho, nascido em Ponta Delgada:

 

                      No horizonte estão todos

                      os pássaros do mundo

 

                      O longe é um golpe na paisagem,

                      a asa do horizonte

 

Poemas de Emanuel Jorge Botelho. Ilustrações de Urbano in 21 Haiku Com Asas, Terceiro Livro de 21 Haiku com Asas, Urbano, E Cabras, Edição Galeria 111)

M

(*) Na terceira de 4 semanas dos desafios do PPP. Neste mês proposto pela Margarida, baseado no Borda D´Água de Fevereiro.

quarta-feira, 9 de fevereiro de 2022

REFLEXÕES SOBRE UM DESAFIO PROPOSTO NO PALAVRA PUXA PALAVRA (*) 2.

Santa Escolástica

Dispensadora de chuva

Porque irmã gémea de São Bento de Núrsia, Santa Escolástica trouxe-me ao pensamento a minha Tia Chanel, devota apaixonada de São Bento e da Regra Beneditina. Não só por esse motivo ela aparece no meu caminho, mas também por causa da ligação que faço com uma viagem à Irlanda que me levou à Abadia de Kylemore, mosteiro beneditino fundado em 1920 sobre o castelo de Kylemore. O castelo foi construído em 1868 por um casal que se apaixonou pela beleza da paisagem durante a lua de mel e que nele residiu. Alguns anos depois, destroçado pela morte repentina da mulher, o viúvo erigiu uma igreja em memória da sua amada Margaret. Contudo, vítima de uma série de reveses na vida, acabou por vender o castelo e a propriedade, os quais tiveram pelo menos dois donos até chegarem à posse de freiras beneditinas.

Dispensadora de chuva parece ser uma tarefa atribuída a Santa Escolástica, na sequência de um episódio passado com o irmão. Acho graça à expressão, mas esta coisa de atribuir obrigações aos santos ad aeternum deve ser uma preocupação, não lhes bastassem as provações vividas no mundo terreno. E nem sempre serão consideradas oportunas, penso, como aconteceu no dia em que visitei este lugar. Teria preferido não precisar de usar o chapéu de chuva. Por outro lado, a chuva e a neblina contribuíram para um certo misticismo que senti envolver a beleza natural da paisagem.

M

 


Fotos de M

(*) Na segunda de 4 semanas dos desafios do PPP. Neste mês proposto pela Margarida, baseado no Borda D´Água de Fevereiro.

quinta-feira, 3 de fevereiro de 2022

REFLEXÕES SOBRE UM DESAFIO PROPOSTO NO PALAVRA PUXA PALAVRA (*) 1.

Foto de M

S. Brás - S. Brás te afogue que Deus não pode

De São Brás e da sua vida nada conhecia até ao momento. Apenas relacionei o nome com a vila São Brás de Alportel. Procurei na internet, fiquei a saber do que dele diz a História e de como é venerado pelo mundo fora. A partir do momento em que salvou uma criança da morte por asfixia por lhe ter retirado uma espinha de peixe encravada na garganta passou a ser invocado contra os males da garganta. Diz a lenda que foi milagre: não lhe tocou, apenas olhou para o céu, rezou, e em seguida fez o sinal da cruz na garganta da criança e ela ficou curada. Parece-me mais plausível que, independentemente da sua religiosidade e da sua vida de eremita numa gruta no Monte Argeu, sendo São Brás médico, terá usado os seus conhecimentos de medicina. Mas que sei eu dos gestos humanos dos santos e das interpretações que deles faziam as populações em séculos tão recuados? De qualquer modo, independentemente da técnica aplicada, imagino o alívio que terá sido para a criança existir alguém capaz de lhe retirar a espinha que o sufocava. Nunca na vida passei por situação tão grave, apenas me aconteceu uma vez distrair-me a comer um peixe saboroso e engolir uma espinha fina que ficou presa na garganta, sem que eu conseguisse repescá-la. Felizmente consegui descolá-la daquele lugar de passagem no túnel do trânsito digestivo usando bocados de pão mal mastigados. Tenho tido sorte, sei de pessoas que precisaram de ir ao hospital. Seja como for, e por semelhança, penso no que devem sofrer os peixes sempre que um anzol camuflado de isco se lhes crava na boca e os arrasta para fora de água. Trágico. Não conhecendo eles nenhum São Brás que os salve do martírio, contorcem-se até à morte, pendurados nos fios das canas de pesca dos pescadores. O que me leva a crer que a expressão popular São Brás te afogue que Deus não pode não tem sucesso com peixes. Nestes casos até dava jeito que São Brás os afogasse, depois eles lá se recomporiam dentro do seu mar imenso. Será tamanha tortura consequência de desentendimentos entre reinos?

 
(*) Na primeira de 4 semanas dos desafios do PPP. Neste mês proposto pela Margarida, baseado no Borda D´Água de Fevereiro.