sábado, 28 de dezembro de 2019

2020 a caminho das nossas vidas


Fotos de M

Recebamos 2020 com flores e pássaros.
M

quarta-feira, 25 de dezembro de 2019

NATAL, UM LUGAR NAS NOSSAS VIDAS


Foto de M

4. E para o ano... há mais Natal? 

Se para o ano haverá mais Natal não sei, essa é uma das perguntas que todos nós fazemos em relação ao futuro e para a qual não temos resposta segura, por causa da finitude humana versus permanência ou renovação da vida. Uma coisa sabemos de certeza e foi David Mourão-Ferreira que a deixou escrita com palavras muito belas no início da sua Ladainha dos Póstumos Natais: «Há-de vir um Natal e será o primeiro/em que se veja à mesa o meu lugar vazio». Mas, haja ou não mais Natal para o ano, a Natureza enfeitar-se-á como de costume e confortará quem a sentir como fazendo parte de si.

M

quinta-feira, 19 de dezembro de 2019

NATAL, UM LUGAR NAS NOSSAS VIDAS


Foto de M

3. A literatura e o Natal
  
TOADA DE NATAL

Um pássaro a cantar na laguna estagnada
Frutos no capitel de uma coluna exangue
É assim que o Natal se nos pousa na alma
É assim que o Natal tem um gosto a laranja

Do gira-discos sobe um concerto de Bach
Que importa que lá fora o vento se levante
É assim que o Natal habita a nossa casa
É assim que o Natal desperta a nossa infância

Mas penso no que seja a noite de hoje em Praga
Vais a dizer Jesus e dizes Vietname
É assim que o Natal nos dilacera a carne
É assim que o Natal nos parece um alfange

E ficamos os dois de mãos entrelaçadas
E filtramos a luz e a sombra deste instante
É assim que o Natal nos vai enchendo a taça
É assim que o Natal nos aperta a garganta

1968

David Mourão-Ferreira, Obra Poética 1948-1988 (Cancioneiro de Natal 1960-1987, páginas 226 e 227), Editorial Presença, Julho de 1996 

quinta-feira, 12 de dezembro de 2019

NATAL, UM LUGAR NAS NOSSAS VIDAS


Foto de M 

2. A história de Natal que eu contaria 

AS CONSULTAS DE QUINTA-FEIRA


Havia anos que os vinte quilómetros de estrada secundária o levavam todas as semanas às consultas de quinta-feira. Grande parte dos seus doentes, por quem sentia um afecto muito especial, vinha do tempo da “periferia”, quando ele e outros colegas ali tinham sido colocados, ao abrigo da política de saúde do governo da altura. Para um rapaz novo, praticamente acabado de sair da faculdade, tinha sido difícil trocar os sonhos de uma carreira médica na capital pela pacatez de um posto de saúde algures numa terra longínqua. O trabalho depressa o fizera compreender a utilidade daquela experiência e o convívio com os colegas trouxera-lhe amizades para a vida inteira. Mais tarde, terminada a “periferia”, mantivera as consultas às quintas-feiras. “Ao menos uma vez por semana vou visitar a família!...”, dizia por graça.
Olha quem ali está, comentou para consigo. O Ti Manel e as suas vinhas! Há que meses não o via. Ainda bem, era sinal de saúde. Aparecera-lhe no consultório por alturas do último Natal, não que estivesse doente, o homem era rijo: “Venho desejar-lhe Boas Festas e oferecer-lhe duas garrafinhas de vinho para o Senhor Doutor beber com a sua senhora.” Buzinou e acenou-lhe através da janela.
- Bom dia Nelson, como vai? - disse, ao passar junto do porteiro do Centro de Saúde - Hoje há muita gente para mim?
- Bom dia Doutor Brandão! Alguma... Começa o inverno, aparecem os espirros...
- O pior é se não tenho lenços suficientes para os espirros da alma...

M

sexta-feira, 6 de dezembro de 2019

NATAL, UM LUGAR NAS NOSSAS VIDAS


Foto de M 

1. As luzes e as sombras do Natal  
Entre as várias fotografias que resguardo na pasta dos meus Natais em família ao longo dos anos escolhi esta, relativamente recente, por me parecer significativa para o tema sugerido. Olho-a demoradamente, o ambiente de luz e sombras encanta-me. Os suportes de vidro das velas vermelhas lembram-me o carreirinho empedrado de um postal meu de criança onde três meninos caminham uns atrás dos outros, com lanternas acesas nas mãos, pelo meio do arvoredo. Imagino-os à procura do Presépio que a minha Tia Chanel fazia, com muitas figuras de barro pintado e musgo apanhado na Tapada da Ajuda. Dezembro tinha sempre uma agenda cheia e a preparação da ementa do jantar de Natal estava na lista. Comprou-se então um perú ao homem que passava na rua (em bairro de Lisboa!) orientando com um graveto o seu bando de perús. Levado ao colo escada acima para a cozinha do nosso terceiro andar, viria mais tarde o pobre animal a cambalear tristemente, embriagado pela aguardente que lhe tinha sido despejada goela abaixo. De tal maneira o episódio me impressionou que ainda o vejo entre as sombras da memória, mais a faca nas mãos da cozinheira pronta para o degolar. Cena cruel, convenhamos. Afastei-me, incomodada, antes que o “perucídio” se consumasse diante de mim, e refugiei-me em pensamentos alegres, antecipando os momentos de festa dos dias seguintes. Na manhã de 25 de Dezembro, em fila indiana, todos de roupão, o meu Pai na frente, a minha Mãe, eu e o meu irmão, dirigimo-nos à cozinha, ansiosos por descobrir que surpresas guardariam os nossos sapatos ali colocados na véspera. Após limpeza primorosa do fogão a gás e da chaminé larga, por onde desceria o Menino Jesus (na casa da minha infância não existiam exaustores nem o Pai Natal era visita da família), tornara-se a cozinha palco digno de coreografia natalícia. 
Um tempo que foi e continua a marcar presença, embora de maneira diferente. Porque o Natal é um lugar nas nossas vidas.

M