terça-feira, 26 de março de 2024

Passar a palavra


Foto retirada da Net

Nem sempre esta coisa de passar a palavra é fidedigna, por vezes já nos chega inquinada. Por engano, por informação pouco aprofundada, porque não é ouvida com clareza, porque deturpada de acordo com o interesse de quem a recebeu? Haverá por onde escolher. Em certos casos provoca sarilhos graves, bem os conhecemos na comunicação social e no frenesim dos interesses políticos ou outros. Felizmente existem casos inofensivos. Lembro-me, por exemplo, do chamado Jogo do telefone sem fio, que fez parte da minha infância e continua a estar presente nas brincadeiras em família, divertindo adultos e crianças. Sentados os participantes em círculo, todos ao lado uns dos outros, o primeiro jogador diz baixinho uma palavra ou frase ao ouvido de quem estiver junto dele, e assim por diante, até chegar ao último jogador que a dirá em voz alta. Raramente o resultado entre o que foi dito no início e o que se ouviu no fim é o mesmo, consistindo nisso o divertimento e o riso.

M

domingo, 17 de março de 2024

Tirar as palavras da boca

Foto de M

Tirar as palavras da boca a alguém não me parece aconselhável. Há quem não aprecie ser antecipado na expressão do seu pensamento, uma espécie de roubo no seu tempo pessoal de ser e estar. Ui e então entre crianças crescem as queixas, os amuos, os ciúmes, as lamúrias. Eu é que quero contar a história toda, não és tu, eu é que vi o cão, eu também o vi, não viste, vi e sei o que lhe aconteceu, não sabes, mãe, pai, mandem calar a mana, não é justo… Alguns meninos até choram baba e ranho (os lenços de papel são úteis nestes casos), como estes do postal que a minha Mãe me enviou da Alemanha em 1952. E por acaso a menina com o cabelo escuro estilo punk, no lado esquerdo da fila do meio, até me lembra retratos meus com dois anos. Nessa idade eu não era pessimista nem de grandes choradeiras, e assim me mantenho, mas compreendo que certas situações nos façam perder a calma, como tirarem-nos as palavras da boca, por exemplo. Nem que seja pelo entusiasmo genuíno de alguém que me ouve por uma imaginada, ou desejada, concordância de ideias comigo, não gosto que isso me aconteça. Simplesmente porque os ouvintes às vezes não acertam no que pretendo dizer. Nem quando termino as frases, quanto mais no início ou a meio delas.

M

quarta-feira, 13 de março de 2024

Pegar na palavra



Fotos de M

Acho graça à ideia de nos proporem comer sopa de letras enquanto esperamos pela refeição pedida em esplanada à beira mar. De esferográfica na mão, pega-se então nas palavras que alguém imprimiu num rectângulo de papel a servir de base aos pratos nas mesas e procura-se o lugar certo onde as assinalar rodeando-as com um traço visível. Terá então mais sucesso quem rapidamente lhes descobrir a morada atribuída na imaginária planta do terreno do projecto imobiliário, como se de casas em construção se tratasse. Desenhadas umas na diagonal, tocam-se outras a meio caminho, algumas na horizontal, ainda outras na vertical. Julgo aplicar bem a palavra “morada” neste caso, a maneira original de uma agência imobiliária se fazer anunciar. Se repararem, as palavras impressas no lado direito do papel são todas relacionadas com o tema da compra e venda de casas. Uma maneira divertida de pegar nas palavras que alguém escreveu no silêncio de um papel com a intenção de angariar eventuais clientes. E depois comer o pastel de nata bem salpicado com a canela que lhe espevita o sabor da sobremesa.

M

quarta-feira, 6 de março de 2024

Palavra de ordem

Foto de M

Julgo que nas nossas vidas já todos nos confrontámos com palavras de ordem, seguindo-as ou não, em privado ou publicamente. Nunca participei em qualquer manifestação pública mas penso que, se participasse, gostaria de levar comigo um cartaz com estas palavras de Fernando Pessoa. Encontrei-as em 2016, durante uma visita de grupo à European University of Lisbon, universidade privada instalada no belíssimo palacete do século 17 de uma quinta na zona de Carnide em Lisboa. Estavam escritas nas paredes de uma das salas de aula, entre outras, por cima dos azulejos antigos, e chamaram-me a atenção. Provavelmente dirigidas como incentivo aos professores e alunos, considero-as uma receita eficaz como palavras de ordem a interiorizar, nomeadamente nos momentos de desânimo, sejam eles pessoais ou de grupo.

M

http://www.monumentos.gov.pt/Site/APP_PagesUser/SIPA.aspx?id=3184

https://ecarnide.hypotheses.org/quinta-bom-nome