sexta-feira, 24 de fevereiro de 2012

173.


Foto de M

Gosto de espreitar o meu mundo através das frestas que o Tempo me oferece.
M

domingo, 19 de fevereiro de 2012

REGRESSO

Estou de volta. Foi mais rápido do que supunha.

M

sexta-feira, 17 de fevereiro de 2012

AVISO

Possivelmente vou estar uns dias sem computador, portanto não se admirem com o meu silêncio.

M

domingo, 12 de fevereiro de 2012

O Prazer de Viajar - 73


Foto de M

Quando avistei a fajã lá do alto, lembrei-me dos presépios que a minha Tia Chanel construía com a sua imaginação de tia querida, era eu criança. Recordei-a a amarfanhar folhas de papel pardo com as mãos leves e a dar-lhes forma de montes que, juntamente com o musgo fresco apanhado nos jardins por onde passeávamos, compunham o solo da nossa aldeia natalícia a viver temporariamente em cima de uma cómoda. Havia de tudo nesta aldeia da minha infância: casinhas de barro pintado, pastores, ovelhas, mulheres carregando cântaros à cabeça, flores, passarinhos, lagos que brilhavam em espelhos pequeninos, patos. Mais longe, os Reis Magos desciam pelos caminhos que os levariam à presença das figuras principais abrigadas na cabana, afinal as grandes responsáveis pela existência daquele cenário que nunca mais esqueci.
De presépios feitos pelos moradores da Fajã do Ouvidor – assim se chama – nada sei, mas imagino que também os haverá em Dezembro. Ou talvez não, pois vivem o ano inteiro dentro de um.
Mas deixando as fantasias, recomendo que espreitem os links abaixo. Neles encontrarão informação interessante sobre as fajãs em geral, sobre esta em particular, e sobre os produtos cultivados nos seus terrenos.
M

http://pt.wikipedia.org/wiki/Faj%C3%A3_do_Ouvidor
http://pt.wikipedia.org/wiki/Inhame
http://pt.wikipedia.org/wiki/Inhame_dos_A%C3%A7ores
http://pt.wikipedia.org/wiki/Revolta_dos_inhames

Fajã do Ouvidor, Ilha de São Jorge, Açores

sexta-feira, 10 de fevereiro de 2012

O Prazer de Viajar - 72






Fotos de M

Não, não “Era uma vez uma casa branca nas dunas voltada para o mar”, nem vi nenhum rapazinho. E, por mais que olhasse para dentro das poças de água transparente e linda, não descobri “uma menina muito pequenina a rir”, que a história A Menina do Mar de Sophia de Mello Breyner é outra.
Não duvido que aqui em Biscoitos os meninos açorianos lêem Sophia, mas também Gaspar Frutuoso (*), no seu livro Saudades da Terra, conta histórias muito interessantes que lhes irá satisfazer a curiosidade. De um outro modo será, certamente adaptadas à curiosidade que com as crianças vai crescendo. E como ainda existe em mim um misto de criança e de adulta, apeteceu-me trincar a pedra negra da parede ali ao lado, a lembrar o pão biscotum que, preto porque cozido duas vezes para durar, alimentava os navegadores de então. Claro que não ousei pôr em prática essa minha ideia, por mor do bom estado futuro dos meus dentes. Contentei-me com a informação de que o solo de Biscoitos tem uma pedra muito parecida com o tal alimento das viagens marítimas, e que à semelhança entre ambos se deve o nome da povoação. E imaginei o sabor de uns outros biscoitos referidos numa passagem do livro Mau Tempo no Canal que terão feito as delícias de Margarida durante a sua estadia em casa do barão e da baronesa da Urzelina:

« - E amanhã de manhã traz-se-lhe o leitinho à cama… - disse a baronesa.
- Quer pão com manteiga ou biscoitos?
- Olhe que é tudo de casa… - declarou o barão. – Só comemos manteiga de pêlo, batida à vista. O engenho trabalha só para o vapor. Amanhã mostra-se-lhe tudo, Angélica!»

M

Mau tempo no Canal, Vitorino Nemésio, Publicações Dom Quixote

Biscoitos, Ilha de São Jorge, Açores

(*)
http://asilhasencantadas.blogspot.com/2011/01/gaspar-frutuoso.html

http://pt.wikipedia.org/wiki/Gaspar_Frutuoso

quinta-feira, 9 de fevereiro de 2012

172.


Foto de M

Lindo o gesto de aliviar feridas no corpo das árvores, a lembrar beijos pousados em dói-dói de menino.
M

terça-feira, 7 de fevereiro de 2012

O Prazer de Viajar - 71


Foto de M

«Os primeiros dias do desterro de Margarida correram suaves na Urzelina. Bem na Urzelina, não. A casa do capitão José Urbanino – como a conheciam ainda – ficava um pouco retirada da linha da povoação, apontando com os telhados baixos e longos, com a sua eira e o engenho, na direcção da «Serra» - a Serra vaga e toda lombar de São Jorge, mãe de milhares de vacas que parecem encarregadas de berrar de dor por ela e de milhões de vitelas enterradas no seu seio de fogo, virgens do garfo do gourmet.
Construída numa leve ondulação do terreno, a vivenda do barão via em baixo a chamada Torre Velha e a casa que servira de passal, relíquias dos rastos humanos que a grande erupção de 1808 soterrara na lava.»

«Ao poente estendia-se a terra lambida e negra que o grande respiradoiro de repente aberto na ilha amontoara ali – a Queimada – com um ar de capuz de penitente envolvido num crime fantástico, e que por isso mesmo o povo chama nas ilhas «mistério», pois todas elas são dadas a esse fadário telúrico que não teve Abel nem Caim. A vegetação, porém, começava a ganhar o duelo travado há mais de um século entre aquele borralho negro e as forças escondidas no chão; e a urzela, o pinheiro, a ruivinha que pinta os queijos e as saias, o incenseiro de florinha cerosa e de baga melada vestiam de folhas e de pássaros a desesperada solidão.»

Mau Tempo no Canal, Vitorino Nemésio, Publicações Dom Quixote

Torre sineira da Urzelina (o que resta da igreja destruída pela erupção de 1808), Ilha de São Jorge, Açores

segunda-feira, 6 de fevereiro de 2012

O Prazer de Viajar - 70


Foto de A.

A velha torre sineira da Urzelina é o que resta da igreja destruída pela terrível erupção de 1808, cuja descrição poderão encontrar no link abaixo indicado. O nome Urzelina vem de urzela, planta tintureira.
M

«Vulcão da Urzelina é a designação dada à erupção vulcânica que em 1808 destruiu a freguesia da Urzelina, na ilha de São Jorge, Açores, criando o extenso mistério basáltico que hoje forma a Ponta da Urzelina.»
«Mistério (geologia) é o nome dado nos Açores às formações lávicas recentes, em particular às originadas por erupções ocorridas após o povoamento das ilhas.»

http://pt.wikipedia.org/wiki/Vulc%C3%A3o_da_Urzelina

Freguesia de Urzelina, Ilha de São Jorge, Açores

Link

sábado, 4 de fevereiro de 2012

O Prazer de Viajar - 69






Fotos de M

Felizmente eu estava longe, empoleirada em cima da diminuta base de um muro, com uma vaca amistosa por perto, ambas entre a terra verde e o mar azul, ela com brincos, eu sem eles.
Tipos de valentia haverá muitos e diversos por esse mundo fora, claro. A minha, ao invés daquela outra mais belicosa, lá em baixo ao fundo da estrada, foi a de ousar encurtar a distância de uma tradição insular equilibrando-a dentro da máquina fotográfica. A da minha pensativa companheira de paisagem não faço ideia qual fosse.

M

Estrada para o Povoado Santo António, Ilha de São Jorge, Açores

O Prazer de Viajar - 68




Fotos de A.

E de repente, ali na íngreme estrada de alcatrão para Santo António, uma tourada à corda! Uma fila de carros enorme, um aglomerado de gente e touros ao fundo, desconhecida a duração do evento.
Trepo ao muro mais próximo e nele me equilibro para fotografar à distância aquele feito de valentias que a tradição insular exibe. Perto de mim, do outro lado do muro, entre a terra e o mar, uma vaca espia-me.
M

«Tourada à corda, toirada à corda ou corrida de touros à corda, é um divertimento tauromáquico tradicional nos Açores, com particular expressão na ilha Terceira, acreditando-se ser a mais antiga tradição de folguedo popular do arquipélago. A modalidade tauromáquica é específica dos Açores e caracteriza-se pela corrida de 4 touros adultos da raça brava da ilha Terceira ao longo de um arraial montado numa rua ou estrada, num percurso máximo que regra geral é de 500 m. O animal é controlado por uma corda atada ao seu pescoço (daí a designação do tipo de tourada) e segura por 6 homens (os pastores) que conduzem a lide e impedem a sua saída para além do troço de via estipulado. A lide é conduzida por membros do público, em geral rapazes, embora seja admissível a presença de capinhas contratados. Após a lide, os animais são devolvidos às pastagens sendo repetidamente utilizados, embora com um período de descanso mínimo de 8 dias.
O primeiro registo conhecido da realização de uma tourada à corda data de 1622, ano em que a Câmara de Angra organizou um daqueles eventos, enquadrado nas celebrações da canonização de São Francisco Xavier e de Santo Inácio de Loiola. Contudo, presume-se que as corridas de touros à corda nos folguedos populares já ocorressem há muito, o que justifica a inclusão daquele evento numa festividade oficial.
A realização de corridas de touros à corda foi adquirindo ao longo dos tempos um conjunto de características, fixadas por normas e regras de cariz popular que hoje se encontram legalmente codificadas. Aquelas normas estabelecem os procedimentos de saúde e bem-estar animal a seguir em relação aos touros, os sinais correspondentes aos limites do arraial (riscos no chão), os sinais a utilizar na largada e recolha do touro (foguetes). Para protecção dos espectadores os touros não estão "em pontas", isto é, têm sempre a ponta dos chifres cobertas por algo que proporcione a protecção do espectador, as regras a seguir na armação dos palanques e na protecção dos espectadores e ainda a actuação dos capinhas (toureiros improvisados que executam sortes recorrendo a um guarda-sol, uma varinha, um bordão enconteirado ou uma samarra).»
(Retirado do site abaixo indicado)

http://pt.wikipedia.org/wiki/Tourada_%C3%A0_corda

(Estrada para o Povoado Santo António, Ilha de São Jorge, Açores)

sexta-feira, 3 de fevereiro de 2012

O Prazer de Viajar - 67




Fotos de M (o melhor que consegui)

«Desde a igreja de Santa Bárbara, onde o barão levara Margarida a ver os célebres azulejos, a estrada trocava os muros e a corda de casas acesas do lume da ceia por uma lomba inóspita e interminável, bordada ainda de terras de semeadura, mas já espaldada pelo baldio vulcânico da ilha, a que a lua dava um brilho singular de crateras mortas e cobertas de um verde adolescente. Era o logradoiro do gado de quem é pobre – «a Serra», a assentada dos ventos convocados para o grupo central dos Açores e encarregados da ronda de todo o arquipélago, desde os calcários de Santa Maria à estátua de Chactas no Corvo e aos sargaços do Gulf Stream.»

Mau Tempo no Canal, Vitorino Nemésio, Publicações Dom Quixote

Igreja de Santa Bárbara, Manadas, Ilha de São Jorge, Açores

O Prazer de Viajar - 66


Foto de M

Em Manadas, um complexo vulcânico no centro da Ilha de São Jorge, encontra-se a riquíssima igreja de Santa Bárbara, com azulejos e talhas de relevo no seu interior, “erguida em 1770, sobre os restos de um antigo templo que remontava a 1485. Dele ainda existem vestígios que, atualmente, se resumem à sacristia. Da primitiva resta a sacristia da actual igreja”. (*)

Igreja de Santa Bárbara, Manadas, Ilha de São Jorge, Açores

(*) Aos mais curiosos recomendo que visitem:

http://pt.wikipedia.org/wiki/Igreja_de_Santa_B%C3%A1rbara_%28Manadas%29

http://pt.wikipedia.org/wiki/Cedro-do-mato

O Prazer de Viajar - 65






Foto de M

«Os momentos de fraqueza, recordou, tivera-os de joelhos, à boca do confessionário e ao ouvido do director espiritual. Nunca revelara a ninguém os segredos profundos, com medo de ser denunciado pelos seminaristas que espiavam o comportamento dos elementos suspeitos. Dissera ao seu director espiritual que o pior de Deus é quando entra em agonia dentro do homem. Em agonia, Deus é uma larva corrosiva: rói o estômago dos seus hóspedes, chupa, um a um, todos os ossos, é um animal roedor. Mas isso fora dito em estado de desespero, quando pediu conselho acerca do pouco sentido que explica e não explica uma existência parada entre os muros dum seminário.
- Dúvidas, filho, crises de fé, horas de angústia – respondera-lhe a vozinha do confessor através da rede -, quem as não tem? Os padres, o bispo, talvez até o papa. Só os espíritos tíbios não acusam a lucidez da dúvida. Vai descansado.»

Gente Feliz com Lágrimas, João de Melo, Colecção Mil Folhas Público

Igreja de Santa Bárbara, Ilha de São Jorge, Açores

O Prazer de Viajar - 64


Foto de M

«Com uma noite quase em claro, João Garcia conseguiu chegar à Matriz a tempo. As cerimónias decorriam com um ritmo grave e inalterável. Não se ouvia uma mosca. Os padres iam e vinham do altar armado no transepto; e aquela alteração no estilo do culto, aproximando-os do povo, como que tornava mais íntimo o seu sentido trágico, humanizado no celebrante de alva cingida e tufada, autenticamente compungido naquela melopeia precursora da imolação de um Cordeiro que desencadeava a cólera do Deus da Montanha e a representação do fim de tudo.
Na Matriz da Horta, quando havia endoenças, comprava-se só cera amarela. Metiam-na num soluto sujo, como se fosse engraxada. Com a desnudação dos altares e os cortinados negros, já desfranzidos nas janelas à espera da hóstia consumida, enlutava-se tudo; caía uma sombra quase táctil, cortada das palavras rituais: In spiritu humilitatis, et in animo contricto suscipiamur a te, Domine…»

Mau Tempo no Canal, Vitorino Nemésio, Publicações Dom Quixote


Igreja Matriz da Horta, Ilha do Faial, Açores

Para os mais curiosos, aqui fica esta interessante informação:

http://orgaos-a-cores.blogspot.com/2009/06/actualmente-o-unico-funcional-na-ilha-o.html

quinta-feira, 2 de fevereiro de 2012

O Prazer de Viajar - 63


Foto de A.

«Entrava em pormenores. Margarida ouvia-o agora vagamente distraída, de cabeça voltada às nuvens, como quem tem uma coisa que incomoda no pescoço, um mau jeito. O cabelo, um pouco solto, ficava com toda a luz da lâmpada defronte, de maneira que a testa reflectia o vaivém da sombra ao vento.
Estavam quase ao alcance da respiração um do outro: ela debruçada num muro de pedra de lava; ele na rampa de terra que bordava a estrada ali larga, acabando com a fita de quintarolas que vinha das Angústias até quase ao fim do Pasteleiro e dava ao trote dos cavalos das vitórias da Horta um bater surdo, encaixado. Dali à entrada da quinta corria um muro de pedra solta onde espreitavam trepadeiras, e só a uns vinte metros se erguia a parede nobre com o grande portão verde de padieira grossa, que ao abrir bem atrás, devido a uma posição mal calculada, batia na borda da sineta arrematada do naufrágio de um veleiro.(…)»

Mau Tempo no Canal, Vitorino Nemésio, Publicações Dom Quixote

Horta, Ilha do Faial, Açores

Provérbios Fotografados - 14


Foto de M

«Antes embebedar que constipar»

Rifoneiro Português por Pedro Chaves (2ª edição), Editorial Domingos Barreira