quinta-feira, 15 de junho de 2017

228.


Foto de Isabel (*)

Ao olhar para esta imagem lembrei-me logo da personagem Pantera Cor de Rosa e da mímica divertida e provocatória entre ela e os vários intervenientes nas séries de desenhos animados dos anos sessenta, deliciosamente acompanhados pela música de Henry Mancini. 
E acrescento que o braço cor de rosa, talvez apercebendo-se de que o sujeito magrinho tinha espreitado o seu espaço redondo, não achou graça à ousadia e apertou-o, apertou-o, até lhe provocar suores frios e pensamentos negros. Quais, não sei, pois de os revelar foi impedido. Uma flor negra?, arrisco perguntar-me. Uma flor não é um pensamento mau de todo. Depois de liberto do apertão, basta que a pinte com uma cor alegre, a regue abundantemente e a prenda no chapéu em sinal de resistência às adversidades. Tenho a certeza que o gesto será deveras apreciado pelos seus conterrâneos e que passará a ser conhecido pelo nome O Homem do Pensamento Flor

(*) Fotografia proposta pela Isabel para o desafio desta semana Com as palavras dentro do olhar no meu outro blog Palavra Puxa Palavra, onde ela participa. Os blogs da Isabel são:

http://fotografiasdaquiedali.blogspot.pt/
 

segunda-feira, 12 de junho de 2017

227.


Foto de M

O mar tem amigos que, por gostarem muito dele, chamaram Casa do Mar a esta casa, belo refúgio quando a praia transborda de gente. Apenas conjecturas minhas, não conheço quem aqui mora nem os seus hábitos, mas sei o que, em dias quentes de verão, acontece um pouco por todo o lado. Instalam-se multidões no areal, carregadas com chapéus de sol, cadeiras, toalhas, lancheiras, jornais, revistas, bolas, e tudo o mais de que precisam para entreter as horas. Os apressados, ávidos de liberdade, correm para a beira-mar, experimentam a temperatura da água, gritam e riem sempre que o mar lhes acena com ondas a crescer devagarinho lá de longe e as deixa depois cair sobre os seus corpos em desequilíbrio. Há quem enfrente a ameaça com os pés fincados no fundo invisível, a lembrar toureiros a incitar os touros na Praça do Campo Pequeno. A postura é semelhante, só lhes falta dizer Touro, é touro! e levantar os braços com uma bandarilha em cada mão. Mas aqui ninguém tem bandarilhas para espetar, os braços são como ferros a furar o bramido aquoso, arrastam o resto do corpo, e submergem por instantes no desconhecido. Continuam as ondas o seu caminho na imensidão azul verde, indiferentes a quem ousou fazer-lhes frente, e desenrolam-se sobre castelos enfeitados com algas e conchas por mãos de meninos. Oh! Que pena! Não faz mal, tem graça sentar dentro das pocinhas e desejar que a menina da história A Menina do Mar os visite, antes de aquela água rendilhada desaparecer na rotina das marés. 
M