Foto de M
Ou, quem sabe, com um sorriso, apenas com um sorriso, um palhaço-brinquedo me fale da inutilidade dos dias adultos pendurados no vazio.
M
Ainda a luz. Brincando nos jardins de que o mundo é feito. E as papoilas que encontro nos caminhos por onde passo. Sem que elas me vejam, sem que saibamos umas das outras. Apenas as pedrinhas das suas fantasias, apenas o meu olhar preso nelas. Por causa da cor. Por causa do deslumbramento. Por causa da vida.
M
É tão antiga e tão presente a luz que poisa nos lugares deste meu mundo onde os objectos permanecem para lá dos gestos perdidos.
A luz é a mesma de então. A mesma dos fins de tarde em que ela se esgueirava por detrás dos prédios altos da rua e nos visitava. Estava sempre afogueada nos dias quentes de Verão e deixava marcas rosadas no azul do céu, nas paredes, nos objectos, nos livros, onde quer que pousasse. Durante o Inverno era fugidia, um pouco apressada, talvez. Demorava-se apenas uns minutos, o tempo de ele a agasalhar dentro da máquina fotográfica, com receio de a perder por causa da pressa dela.
A luz que ainda me visita é a mesma de sempre. Gosta de voltar nos dias em que o sol se mostra, e eu gosto que ela atravesse as vidraças da minha sala. Entra sem que eu a oiça, com o à-vontade de quem conhece a casa, e deixa-me os olhos embaciados, com lágrimas a baloiçar. Eu disfarço, para não a atrapalhar, e consigo embebê-las dentro do meu coração.
M