52.

Foto de M

É bom subir a persiana pela manhã e encontrá-lo ali, discreto e delicado, a querer saber de mim.
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Foto de M

Maçã oferecida, pousada no limite desconhecido do tempo. Dentro dela o mundo, fragmentado, flutuando na transparência azul. Terra e água, corpos e almas em movimento de encontro e desencontro. Atracção e repulsa. Vida e morte. Indiferentes uma à outra na ilusão da permanência, cruzando-se na incógnita de si mesmas. E no entanto…
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Foto de M

Pousados na terra dos homens. Dois pedaços fechados, por adivinhar. Como duas mãos por abrir a vida: a realidade e a fantasia; as flores e o espírito; os jardins e as estrelas; as cores que pacificam e o brilho que exalta. Como dois presentes oferecidos a um recém-nascido à procura de si e do mundo. Como dois beijos.
Lembrei-me deles, dos recém-nascidos: ao nascer trazem as mãos fechadas, os dedos pequeninos escondidos na concha de si mesmos. Depois, pouco a pouco, vão-nas abrindo em movimento instintivo de descoberta das coisas e de encontro com o afecto que lhes oferecemos na ponta dos nossos dedos. Para que o agarrem e o sintam, para que nos descubram, para que nos reconheçam. Para que nos adivinhemos mutuamente. Porque também nós, pequenos e grandes, somos pedaços de gente por adivinhar. Até que a morte nos leve com ela. Quando a nossa vida já não embacie os espelhos em que amiúde nos olhamos e nos perguntamos.
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49.

Foto de M

Toco a memória das coisas com o silêncio na voz. Penso e sinto os gestos da vida. Para a repor.
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Foto de M

Quando o silêncio se abre toma a cor e a voz das palavras que esvoaçam nos bicos dos pássaros como raminhos e palhas de construir ninhos no cimo das árvores.
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