Nem sempre o que nos sussurramos em solilóquio é companheiro amigo. Às vezes é tortura aguçada dita em palavras com volume desmedido cravadas no próprio corpo do silêncio.
M
domingo, 30 de novembro de 2008
85.
sábado, 22 de novembro de 2008
Texto com que participei no 8º Jogo das 12 Palavras no blog Eremitério
À GUISA DE CARTA
Prezado Eremita,
Confesso que, ao receber a lista de palavras para o 8º Jogo das 12 Palavras, dado o pouco uso de algumas na linguagem corrente dos nossos dias, pensei se estaria a viver noutra época. Vieram-me então à cabeça vários livros de escritores de séculos idos, e de tal maneira a ideia se impôs que cheguei ao ponto de me imaginar vestida com a indumentária desses tempos. Pelo sim pelo não, procurei um espelho que me mostrasse de alto a baixo e constatei que o meu aspecto era o de uma mulher do ano 2008 da era cristã. Afinal aquela fantasia nada mais tinha sido do que uma reacção primária relacionada com a minha preocupação em responder de forma adequada a este desafio de escrever textos com doze palavras obrigatórias sugeridas por outros. Tarefa difícil, pelo menos para mim. Como resolver o problema? Tomei por isso a ousadia de o pôr ao corrente do meu embaraço perante o repto que nos é feito esta semana.
Numa época em que até se comunica através de palavras mutiladas pelos dedos de mãos apressadas em manejar mensagens por telemóveis, e em que vocábulos antigos foram completamente esquecidos, suponho que o meu amigo compreenderá a minha dificuldade em escrever um texto ajustado à proposta. Que não nego poderá vir a ser muito enriquecedor para quem nos ler e assim, consoante a idade, recordará tempos de linguagem requintada, ou, no caso dos mais jovens, os levará, pelo menos e se curiosos, a manusear o dicionário. Confesso, contudo, que tenho algumas dúvidas, e imagino certos obstáculos, quanto à aplicação dessas palavras na vida actual e trivial de todos nós. Dir-me-á que uma língua se constrói na sua utilização. Claro que sim, mas também por isso mesmo, dou-lhe um exemplo que me parece elucidativo. Imagine o que seria encontrar-me eu num autocarro e, já farta de ouvir uma daquelas discussões alimentadas por inflamadas difamações que por vezes animam essas viagens, tentar apaziguar os contendores e dizer‑lhes: Deixem-se dessa aleivosia, meus senhores! De certo olhariam para mim estupefactos e diriam: Olha esta! O que é que você está a insinuar? Penso que, no aceso da disputa verbal, e do gesto esboçado, não seria avisado da minha parte explicar-lhes que é de mau tom urdir calúnias e o melhor seria remeter-me à minha insignificância, não resistindo, no entanto, a aconselhar-lhes: Não percam tempo com ninharias, que ele é uma preciosidade a resguardar nas nossas vidas. (Julgo que, pelo menos, ninharias lhes seria familiar, pois que delas temos o mundo cheio…) Depois sairia do autocarro, deixando atrás de mim, estampado nos rostos dos passageiros, o silêncio da comiseração (não sei se por mim se pelos outros) e do cansaço dos dias em busca do pão que alimenta os estômagos famintos.
Bem, mas prosseguindo na explanação das minhas dificuldades em corresponder ao seu pedido, e porque me parece a propósito, lembro-lhe que esta vida urbana é completamente diferente da que goza no seu eremitério. Aqui, a efervescência devora-nos e poucas horas sobram para o misticismo e para a reflexão filosófica sobre o que quer que seja, como por exemplo o conceito de infinitude. Aqui desejam-se soluções imediatas, aplicadas ao dia-a-dia, como uma espécie de unguento eficaz que se procura para a travessia das rotinas e das dores do corpo que transbordam para a pele ou se embebem na alma. O senhor é que tem o privilégio de poder sentar-se pela manhã à beira do seu pensamento e enriquecer os seus dias com o olhar demorado no sincelo dos beirais dos telhados. Na cidade nem de beirais damos conta, que raramente os há. Temos elevadores em prédios altos e, quando viramos a cabeça para cima à procura de qualquer coisa que nos afaste da realidade que nos consome, vemos o céu à distância. O que apesar de tudo não é mau, porque o céu pode ser um telhado.
Espero, prezado amigo, que não interprete mal a minha carta e que a tome apenas como um desabafo. Sendo o senhor um eremita habituado à reflexão, presumo saberá avaliar melhor do que ninguém as apreensões de uma citadina do século 21.
Um abraço
M
8º Jogo das 12 Palavras no Eremitério
(As 12 palavras de uso obrigatório eram: aleivosia, comiseração, eremitério, infinitude, mãos, misticismo, pão, preciosidade, silêncio, sincelo, unguento, urdir.)
terça-feira, 18 de novembro de 2008
Para a Licínia Quitério
Foi especial este último sábado 15 de Novembro. E foi bom ouvir os teus poemas ditos de modos tão diferentes pelos teus amigos, também eles tão diferentes uns dos outros. A singularidade e a universalidade em convívio ameno.
Obrigada, Licínia, por este presente tão bonito que nos ofereceste e que nos deixou felizes e mais completos.
M