Foto de M
O rosto da
mulher era muito belo e delicado, a lembrar as Madonnas pintadas por
Botticelli. Inerte, o olhar calado fixo no chão, segurava numa das
mãos um copo de plástico com duas ou três moedas escuras perdidas
no fundo, o braço estendido como se não lhe pertencesse. A menina,
quase imóvel ainda que desperta, procurando apenas de vez em quando
posição mais confortável, mais parecia fazer parte daquele corpo
colado ao passeio de distante praça cosmopolita.
Perguntei-me
como era possível que uma criança tão pequena – teria cerca de
três anos? - se mantivesse assim quieta durante os trinta minutos em
que a observei do alto do assento da camioneta em que eu viajava,
estacionada por breves momentos à espera de outros passageiros.
Talvez o
colo. Sim, talvez fosse o aconchego do colo que a faria esquecer o
desassossego da infância. Apesar do que certamente lhe faltaria. E
por causa disso.
M