quarta-feira, 22 de janeiro de 2014

198.


Foto de M

Fotografei este recanto apenas porque o achei singular. Só agora, ao repescar a imagem para a publicar aqui, me saltou ao pensamento um versículo do Evangelho de São Mateus: «Quando deres esmola, que a tua mão esquerda não saiba o que fez a direita, a fim de que a tua esmola permaneça em segredo; e teu Pai, que vê o oculto, premiar-te-á. (…)». Associações de ideias que amiúde me provocam, embora neste caso o conselho não possa ser seguido à risca. Tratando-se do corrimão de uma escada estreita que dá acesso à porta de entrada de uma casa, aquela mão esquerda que o sustém saberá, na maior parte das vezes, o que faz a direita. Não a sua porque não a tem, mas a de alguém que nele se apoie para subir os degraus com mais ligeireza. Além disso, estando ela presa à parede e sendo muda, terá menor capacidade de acção. Para quem desce, a situação será diferente. Em conformidade com a habitual constituição dos braços, a tal mão direita manterá a posição dextra no corpo a que pertence, não sendo visível do lado oposto. Encontrar-se-ão então apenas as duas esquerdas, ocasião propícia ao cumprimento mútuo, suponho, seja ele contido ou mais efusivo. Aliás, «Para baixo todos os santos ajudam», lá diz o ditado. 
M

sexta-feira, 10 de janeiro de 2014

197.


Foto de M

Pronto. A palavra surgiu-me de repente sem eu saber exatamente o que fazer com ela, preparava eu a agenda de desafios do Palavra Puxa Palavra para janeiro do novo ano. Deixei-a sozinha, abrigada num dos cantos do pensamento, convencida de que tinha o problema resolvido se conseguisse formar uma frase onde se sentisse bem. O pior é que as palavras brincam às escondidas e amiúde desaparecem entre fissuras diversas sem que sejamos capazes de as agarrar a tempo de lhes apresentar companhia adequada. Pronto. Pronto o quê? O fim do início de uma ideia por desenvolver? Posta de parte sem se revelar? A pergunta pressupunha desistência, o que me desagradava. Talvez «Pronto a comer», embora título demasiado conciso e comercial para tamanha doçura de um Monte Dourado. Lindo o nome, o sol escorrendo sobre alvos castelos. A lembrar-me a minha Tia Chanel e a sua sobremesa habitual nos dias de festa em casa dos meus Pais. Cozinho-a eu agora, assim presentes ambas no sabor dos ingredientes que as recordações podem conter. 

M