Foto de M
Gosto de palavras. Têm corpo de gente, gestos de gente, voz de gente. E riem, e dão gargalhadas. Choram também, desesperam. E espantam-se tanta vez. Algumas insultam, coram de vergonha os seus alvos, ou enraivecem-nos e fazem ricochete, ui! Outras guardam silêncio escondendo-se dentro da boca de quem as não diz ou no pensamento de quem as pensa. Às palavras que se alinham para desalinhar sentidos acho particular graça: desenham sorrisos discretos nos olhos, nos lábios, nas rugas marcadas. Das palavras pacientes quase me esquecia de falar. Presas dentro de livros, esperam que alguém repare nelas e lhes faça companhia. Estabelecida então uma forte empatia, qualquer desvio de atenção dos seus amigos leitores em momentos de pausa de leitura as leva a seguir-lhes o olhar para lá das páginas abertas sobre a mesa da esplanada. (Aposto que até encontram cenários iguais ou semelhantes aos que compõem os capítulos em que vivem. Cenas, como agora se diz.) A propósito de cenas lembrei-me dos antigos mini teatros ambulantes de praia onde fantoches com cabeça de pau e voz esquisita se batiam freneticamente à paulada. Hoje em dia as pancadarias e os cenários serão outros, certas palavras desapareceram do vocabulário corrente, mas em geral as mais usadas não divergem muito dessa época, apenas a eliminação de determinadas consoantes e acentos as transfigura. Por mor de acordos e desacordos e não só.
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