sábado, 28 de dezembro de 2019
quarta-feira, 25 de dezembro de 2019
NATAL, UM LUGAR NAS NOSSAS VIDAS
Foto de M
4. E para o ano... há mais Natal?
Se
para o ano haverá mais Natal não sei, essa é uma das perguntas que
todos nós fazemos em relação ao futuro e para a qual não temos
resposta segura, por causa da finitude humana versus permanência ou
renovação da vida. Uma coisa sabemos de certeza e foi David
Mourão-Ferreira que a deixou escrita com palavras muito belas no
início da sua
Ladainha dos Póstumos Natais:
«Há-de vir um Natal e será o primeiro/em que se veja à mesa o meu
lugar vazio». Mas, haja ou não mais Natal para o ano, a Natureza
enfeitar-se-á como de costume e confortará quem a sentir como
fazendo parte de si.
M
quinta-feira, 19 de dezembro de 2019
NATAL, UM LUGAR NAS NOSSAS VIDAS
Foto de M
3. A
literatura e o Natal
TOADA
DE NATAL
Um
pássaro a cantar na laguna estagnada
Frutos
no capitel de uma coluna exangue
É
assim que o Natal se nos pousa na alma
É
assim que o Natal tem um gosto a laranja
Do gira-discos sobe um concerto de Bach
Que
importa que lá fora o vento se levante
É
assim que o Natal habita a nossa casa
É
assim que o Natal desperta a nossa infância
Mas penso no que seja a noite de hoje em Praga
Vais
a dizer Jesus e dizes Vietname
É
assim que o Natal nos dilacera a carne
É
assim que o Natal nos parece um alfange
E ficamos os dois de mãos entrelaçadas
E
filtramos a luz e a sombra deste instante
É
assim que o Natal nos vai enchendo a taça
É
assim que o Natal nos aperta a garganta
1968
David
Mourão-Ferreira, Obra
Poética
1948-1988 (Cancioneiro
de Natal 1960-1987, páginas 226 e 227),
Editorial Presença, Julho de 1996
quinta-feira, 12 de dezembro de 2019
NATAL, UM LUGAR NAS NOSSAS VIDAS
Foto de M
2. A história de Natal que eu contaria
AS
CONSULTAS DE QUINTA-FEIRA
Havia
anos que os vinte quilómetros de estrada secundária o levavam todas
as semanas às consultas de quinta-feira. Grande parte dos seus
doentes, por quem sentia um afecto muito especial, vinha do tempo da
“periferia”, quando ele e outros colegas ali tinham sido
colocados, ao abrigo da política de saúde do governo da altura.
Para um rapaz novo, praticamente acabado de sair da faculdade, tinha
sido difícil trocar os sonhos de uma carreira médica na capital
pela pacatez de um posto de saúde algures numa terra longínqua. O
trabalho depressa o fizera compreender a utilidade daquela
experiência e o convívio com os colegas trouxera-lhe amizades para
a vida inteira. Mais tarde, terminada a “periferia”, mantivera as
consultas às quintas-feiras. “Ao menos uma vez por semana vou
visitar a família!...”, dizia por graça.
Olha quem ali está, comentou para consigo. O Ti Manel e as suas vinhas! Há que meses não o via. Ainda bem, era sinal de saúde. Aparecera-lhe no consultório por alturas do último Natal, não que estivesse doente, o homem era rijo: “Venho desejar-lhe Boas Festas e oferecer-lhe duas garrafinhas de vinho para o Senhor Doutor beber com a sua senhora.” Buzinou e acenou-lhe através da janela.
- Bom dia Nelson, como vai? - disse, ao passar junto do porteiro do Centro de Saúde - Hoje há muita gente para mim?
- Bom dia Doutor Brandão! Alguma... Começa o inverno, aparecem os espirros...
- O pior é se não tenho lenços suficientes para os espirros da alma...
Olha quem ali está, comentou para consigo. O Ti Manel e as suas vinhas! Há que meses não o via. Ainda bem, era sinal de saúde. Aparecera-lhe no consultório por alturas do último Natal, não que estivesse doente, o homem era rijo: “Venho desejar-lhe Boas Festas e oferecer-lhe duas garrafinhas de vinho para o Senhor Doutor beber com a sua senhora.” Buzinou e acenou-lhe através da janela.
- Bom dia Nelson, como vai? - disse, ao passar junto do porteiro do Centro de Saúde - Hoje há muita gente para mim?
- Bom dia Doutor Brandão! Alguma... Começa o inverno, aparecem os espirros...
- O pior é se não tenho lenços suficientes para os espirros da alma...
M
sexta-feira, 6 de dezembro de 2019
NATAL, UM LUGAR NAS NOSSAS VIDAS
Foto de M
1. As luzes e as sombras do Natal
Entre as várias
fotografias que resguardo na pasta dos meus Natais em família ao
longo dos anos escolhi esta, relativamente recente, por me parecer
significativa para o tema sugerido. Olho-a demoradamente, o ambiente
de luz e sombras encanta-me. Os suportes de vidro das velas vermelhas
lembram-me o carreirinho empedrado de um postal meu de criança onde
três meninos caminham uns atrás dos outros, com lanternas acesas
nas mãos, pelo meio do arvoredo. Imagino-os à procura do Presépio
que a minha Tia Chanel fazia, com muitas figuras de barro pintado e
musgo apanhado na Tapada da Ajuda. Dezembro tinha sempre uma agenda
cheia e a preparação da ementa do jantar de Natal estava na lista.
Comprou-se então um perú ao homem que passava na rua (em bairro de
Lisboa!) orientando com um graveto o seu bando de perús. Levado ao
colo escada acima para a cozinha do nosso terceiro andar, viria mais
tarde o pobre animal a cambalear tristemente, embriagado pela
aguardente que lhe tinha sido despejada goela abaixo. De tal maneira
o episódio me impressionou que ainda o vejo entre as sombras da
memória, mais a faca nas mãos da cozinheira pronta para o degolar.
Cena cruel, convenhamos. Afastei-me, incomodada, antes que o
“perucídio” se consumasse diante de mim, e refugiei-me em
pensamentos alegres, antecipando os momentos de festa dos dias
seguintes. Na manhã de 25 de Dezembro, em fila indiana, todos de
roupão, o meu Pai na frente, a minha Mãe, eu e o meu irmão,
dirigimo-nos à cozinha, ansiosos por descobrir que surpresas
guardariam os nossos sapatos ali colocados na véspera. Após limpeza
primorosa do fogão a gás e da chaminé larga, por onde desceria o
Menino Jesus (na casa da minha infância não existiam exaustores nem
o Pai Natal era visita da família), tornara-se a cozinha palco digno
de coreografia natalícia.
Um tempo que foi e continua a marcar presença, embora de maneira diferente. Porque o Natal é um lugar nas nossas vidas.
M
Um tempo que foi e continua a marcar presença, embora de maneira diferente. Porque o Natal é um lugar nas nossas vidas.
M
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