FIOS E PRUMOS

Foto de M

Quando eu voltar logo vejo se o pé do candeeiro continua um pouco inclinado e em risco de cair ou se o problema está nos meus olhos. Entretanto, deixo o fio de prumo pendurado ao seu lado, talvez a companhia o ajude a recompor-se do cansaço que é permanecer em pé anos e anos a fio, sempre pronto a iluminar quem se senta perto dele. Pelo menos têm em comum a palavra fio, um bom pretexto para início de conversa entre os dois, a quebrar o frio metálico existente.

M

DO QUE GOSTO 47

Foto de S. (Silêncio)

Um Outro Silêncio

Sentei-me lado a lado com a mudez e ali fiquei, embrulhando em cor sépia, uma a uma, cada palavra que não disse. Depois lancei-as ao ar, devagarinho, e sorri um pouco, quando as reencontrei entre o arvoredo.

M

(2004)

DO QUE GOSTO 46

Foto de S. (Ne me quittes pas)

Gestos e Sentimentos

É bonito o gesto de dizer adeus. Ou o gesto de esperar alguém. Ou o gesto de dizer adeus sabendo que não há regresso. Ou o gesto de ficar.

Tão bonitos todos eles! E tão dolorosos alguns!

Tão dolorosos como a história da rapariga que, segundo conta a lenda, se apaixonou por um pescador que não voltou a terra. E que, enlouquecida de amor, o esperava todos os dias no porto junto do mar, com os olhos postos no azul sem fim.

Como é bonita a sua estátua à beira-mar onde as gaivotas poisam e a acompanham no seu eterno gesto de esperar um barco que passa longe! E que não chega nunca.

M

(2006, Opatija, Croácia)