O tangível e o intangível
Faz-nos falta o toque. Ele é meio de conhecimento e manifestação de afecto, a inexistência de beijos e abraços durante a pandemia provou bem como o toque é importante nas nossas vidas. É conforto, confirmação de união entre as pessoas, também confirmação da necessidade de verdade. Por alguma razão as crianças aprendem o mundo tocando na mãe e nas pessoas que lhe estão próximas e manuseiam os objectos até à exaustão da sua curiosidade. Mas, como todos sabemos, até em objectos apetecíveis somos muitas vezes proibidos de tocar. Aliás, essa regra existe na memória da infância de cada um de nós, ninguém nos deixou bater insistentemente com os brinquedos na mesa de vidro da sala porque aquele ruído nos intrigava, havia que evitar estilhaços cristalinos.
Na companhia de amigos, visitei em Setembro o B-MAD, Berardo – Museu Arte Deco em Lisboa. Visita guiada, número limitado de pessoas, alguns cordões vermelhos vedando o acesso ao interior de certas salas com espaço reduzido, aproximações arriscadas, compreensível, mas frustrante por vezes só poder olhar de longe. Lindo o edifício, linda a exposição, obras magníficas que apetece afagar de tanto gostarmos delas, para tentarmos imaginar o que os seus criadores terão sentido ao realizá-las, para as sentirmos melhor dentro de nós. Do grupo de fotografias que consegui tirar, escolho a deste quadro que me chamou particular atenção pela imagem e pelo local em que estava pendurado, visível apenas de relance ao passar, o que me leva a pensar na relação que pode existir entre a beleza das coisas, o tangível e o intangível.
M
(Quadro com o título Figura Dupla, de cerca de 1928, é do pintor belga René Capouillé, 1885-1944)