quinta-feira, 29 de dezembro de 2022

Chocolate quente



Fotos de M

Costumávamos beber chocolate quente preparado pela minha Mãe nas noites de 24 de dezembro. A receita faz parte do livro Doces e Cozinhados, mais conhecido pelo nome de Isalita. Foi-lhe oferecido pelo meu Pai no Natal de 1952, com dedicatória e assinatura, pormenor que me comove, a letra manuscrita é presença. Ainda o tenho, as folhas gastas, amarelecidas, algumas presas por um fio à capa, mas não importa, nele relembro momentos bons e me inspiro também.

M

quinta-feira, 22 de dezembro de 2022

Castelos

Foto de M

Castelos. Bater claras em castelo. Fazer castelos no ar. Engraçada a aplicação e significado da palavra castelos nas duas frases. Mas os castelos de pedra foram construídos com alicerces e sabedoria desde as eras mais remotas. Estão bem agarrados ao chão e só se desmoronam com a passagem do tempo ou se forem atacados por inimigos sedentos de ambição. Resistem de pé às investidas dos agressores, esperando vencê-los, levando-os a desistir ou a darem de frosques, tantas vezes com a pressa abandonando os seus homens às soberanias alheias. Já as claras em castelo são prenúncio de doçuras, que à mesa das festividades não são desejadas pelejas. Quanto às construções de castelos no ar, sendo o nosso pensamento irrequieto, não admira que de vez em quando nos dediquemos a essa arte.

(Castelo de Almourol)

quarta-feira, 14 de dezembro de 2022

domingo, 11 de dezembro de 2022

O prazer de olhar

 

Foto de M

quinta-feira, 8 de dezembro de 2022

quarta-feira, 7 de dezembro de 2022

Estrelas

Estrelas. Tantas são elas, mas duvido que as três gaivotas da semana passada empoleiradas no telhado as tenham vislumbrado estando o céu azul claro. Terão regressado à praia e encontrado alguma estrela do mar lançada pelas águas revoltas sobre a areia molhada. As que brilham no céu são noctívagas, preferem mostrar-se a quem as procura na limpidez das noites campestres. Atraem-nos na sua beleza de certo modo misteriosa. As crianças desenham-nas, Vincent Van Gogh pintou-as nos quadros Terraço do Café à Noite e A Noite Estrelada. Impressionado com este último quadro e com o que tinha lido sobre a vida do pintor, o músico Don McLean escreveu a comovedora letra da canção Vincent (Starry, Starry Night). Também no conto Les Étoiles Alphonse Daudet fala das estrelas de modo romântico. Numa viagem que fiz à Provence, encontrei um excerto desse conto na decoração do restaurante L’Estellan, em Gordes, perto da bela Nîmes, onde ele nasceu.

Nas ruas das cidades andamos distraídos, o olhar preso nos ecrãs dos telemóveis, só vemos estrelas se batermos com a cabeça nalgum obstáculo com que não contamos, e essas fazem mossa. Felizmente houve quem soubesse onde as colocar no chão que pisamos. No início do século 19, o galego Agapito Serra Fernandes (“terá tido uma boa estrela”, como se diz por aí) industrial do sector alimentar, mandou construir um bairro para os seus trabalhadores: o Bairro Estrela D’Ouro. Ele próprio ali residiu com a sua família, deu os nomes de familiares seus às ruas e um pouco por toda a parte inseriu a estrela de cinco pontas, um dos símbolos da Galiza. Estive lá com uns amigos em 2011 e gostei muito do que vi.

M







Fotos de M

terça-feira, 6 de dezembro de 2022

Pôr do sol


 Foto de M

quinta-feira, 1 de dezembro de 2022

Telhados





Fotos de M

Gosto de telhados e da cor ondulada das telhas lado a lado. Servem de tecto para uns e chão para outros. São canteiros para sementes perdidas, toldo para ninhos de andorinhas, casa aberta para cegonhas em descanso de voos e alimento das crias, poiso temporário para gaivotas fugindo de tempestades no mar. Precavidas e confiantes, nem tanto ao mar, nem tanto à terra, no equilíbrio entre céu e chão firme esteve a escolha destas três companheiras. Observam do alto os veraneantes nas ruas. Caminham felizes, toalha ao ombro e chapéu de sol debaixo do braço, de regresso a suas casas com janelas e varandas viradas para o horizonte imenso. Mas dos horizontes sombrios dos desconhecidos da capital cosmopolita a dormirem ao relento com embalagens de cartão a servirem-lhes de telhado nada sabem as gaivotas.

M