Estrelas.
Tantas são elas, mas duvido que as três gaivotas da semana passada empoleiradas
no telhado as tenham vislumbrado estando o céu azul claro. Terão regressado à
praia e encontrado alguma estrela do mar lançada pelas águas revoltas sobre a
areia molhada. As que brilham no céu são noctívagas, preferem mostrar-se a quem
as procura na limpidez das noites campestres. Atraem-nos na sua beleza de certo
modo misteriosa. As crianças desenham-nas, Vincent Van Gogh pintou-as nos quadros
Terraço do Café à Noite e A Noite Estrelada. Impressionado com este
último quadro e com o que tinha lido sobre a vida do pintor, o músico Don
McLean escreveu a comovedora letra da canção Vincent (Starry, Starry
Night). Também no conto Les Étoiles Alphonse Daudet fala das estrelas
de modo romântico. Numa viagem que fiz à Provence, encontrei um excerto desse
conto na decoração do restaurante L’Estellan, em Gordes, perto da bela Nîmes,
onde ele nasceu.
Nas
ruas das cidades andamos distraídos, o olhar preso nos ecrãs dos telemóveis, só
vemos estrelas se batermos com a cabeça nalgum obstáculo com que não contamos,
e essas fazem mossa. Felizmente houve quem soubesse onde as colocar no chão que
pisamos. No início do século 19, o galego Agapito Serra Fernandes (“terá tido
uma boa estrela”, como se diz por aí) industrial do sector alimentar, mandou construir
um bairro para os seus trabalhadores: o Bairro Estrela D’Ouro. Ele próprio ali residiu
com a sua família, deu os nomes de familiares seus às ruas e um pouco por toda
a parte inseriu a estrela de cinco pontas, um dos símbolos da Galiza. Estive lá
com uns amigos em 2011 e gostei muito do que vi.
M
Fotos de M