quinta-feira, 3 de janeiro de 2008

43.






















Foto de M


E há a mão que escreve o pensamento na distância da saudade, contidas as palavras dentro dos limites da fotografia, a pose emoldurando o rosto e o sorriso por medida. Do resto, da brancura interna dos afectos ansiosos por se oferecerem ninguém saberá. A mão fechada sobre o regaço de rendas dir-nos-ia talvez desses segredos, pudesse ela abrir-se livremente e mostrar o que guardara anteriormente ao pousá-la sobre o peito. Não de qualquer maneira, não, mas naquele lugar tão especial onde o coração costuma estar. Mas não pode, que o fotógrafo quis que se mantivesse imóvel. As letras, escassas, apareceram depois, à revelia, desenhadas na margem que sobrou da arte de reter o momento. E outras palavras poderiam ter existido sobre a moldura, não fosse a contenção de sentimentos imposta pelo artista dos gestos mudos. Mas, se pensarmos bem, nada disso importará, pois a pessoa a quem elas são dirigidas tem o privilégio de lhes adivinhar a plenitude.
M

8 comentários:

bettips disse...

Ainda as mãos, que guardam.
Onde se prendem os fios da memória e da doçura deste olhar.
Bj

mena maya disse...

E as mãos que escrevem, palavras de uma beleza singular!

Belíssima a fotografia também!

Um abraço

Licínia Quitério disse...

Na tua senda de desvendar os segredos das mãos. Suave e profundo caminho...

Beijos.

Mónica disse...

sou fã destas fotografias antigas, há de certeza uma história pra contar: que estaria a comemorar? porquê dar a fotografia a uma irmã?

uma vez encontrei uma na biblioteca do liceu, com data de 1915, guardei-a, intrigava-me porque estaria ali pq o liceu não era assim tão antigo, quem a perdeu, que falta faria a quem a perdeu, quem seria a menina, que mistério...

jawaa disse...

A caligrafia diz da época, para além da pose; o vestido, a cadeira, a mesa e o livro aberto sobre o napperon, o oval da moldura que chama o do rosto...
Lindo.

Teresa David disse...

Com imaginação, a partir de uma foto bela como esta, poder-se-á sempre construir um belo texto como o teu, particularmente, se se for detentora do talento de que és dotada!
Bjs
TD

Sonia Sant'Anna disse...

Quanta ternura. No doce olhar da retratada e na dedcatória, que, embora contida, transpira amor à querida "irmãzinha".

Joana Roque Lino disse...

Não sabia que a M. tinha este outro cantinho. Já tinha saudades de a ler. Um beijinho.