domingo, 20 de julho de 2008

Na Serra de Montejunto I


Clair de lune (Foto de S.)

Claire de Lune

Passam as histórias de boca em boca, de ouvido em ouvido, de fantasia em fantasia. Comem-se frases, sílabas, letras. Às vezes. Conforme a boca de quem as conta, conforme o ouvido de quem as ouve, conforme a imaginação de cada um. Comem-se e engolem-se. Ficam dentro de nós, em pedaços separados, dentro do estômago do pensamento.
Quem sabe então se este Clair de Lune que paira entre as ruínas de um mosteiro no alto da Serra de Montejunto não terá sido o nome de alguém a quem, na ânsia de lhe contar e conhecer a vida (ou de a desprezar), os habitantes das aldeias vizinhas terão feito desaparecer a letra "e" no final do nome? Se assim aconteceu, embora esta ideia não seja mais do que uma suposição minha sem qualquer fundamento, confesso que me apetece acrescentar-lho de novo e chamar-lhe Claire de Lune. E imaginar uma rapariga de cabelos soltos vagueando pelos montes em noites de luar pela mão de Claude Debussy. Apesar das ruínas. Apesar do tempo que se desmorona mas que igualmente se reconstrói ao modo de cada um. E porque a lua está presente também nos nossos dias, no mistério do que nos toca e se deseja.
M

Publicado no Fotoescrita em Junho de 2006

3 comentários:

Frioleiras disse...

lvi/li o primeiro;
vi/li osegundo;
ao terceiro.... vieram-me as lágrimas aos olhos...

com um beijo,

grande

e amigo................
(para ti)

Justine disse...

É urgente a vontade de caminhar por este texto e esta foto(como um todo, uma unidade)silenciosamente, pé ante pé, levantando apenas suposições e escutando a música que se adivinha no ar

Maria Laura disse...

Com essa luz e esses corredores que nos intrigam e fazem sonhar pode mesmo ser que alguém por aí vagueie. Fiquei a imaginar, eu também.