quinta-feira, 26 de março de 2009

95.

Foto de M

Porque a palavra desta semana no Fotodicionário foi Pobreza, fotografei-a deste modo, tentando exprimir através dela as minhas reflexões sobre a sua natureza.

Penso na pobreza como resultado do desacerto entre brilhos e planuras de sombras em caminhos estreitos onde só o nada é presença, seja ele individual, social, nacional, mundial, político, económico, espiritual, ético, cultural, estético. Por culpa própria ou alheia, por incapacidades ou desistências, por ignorância, por sonegação do direito à vida inteira, por limites impostos, por arbitrariedades que aviltam o ser humano, por tantas mais razões desconhecidas que ferem ou matam o sonho da existência. Mas também olho para a palavra atribuindo-lhe um outro sentido, a que chamarei despojamento, em escolha pessoal e íntima de renúncia a tudo o que possa ser obstáculo ao desejo de sentir a pureza suprema da vida. Contudo, julgo que só depois de alguém ter possuído os bens mínimos essenciais à sua sobrevivência física e mental com a dignidade que merece, terá disponibilidade interior para fazer essa escolha.
M

12 comentários:

Ana Echabe disse...

Gosto desta simplicidade desta maçaneta. Pois ela cumpriu com sua função que é abrir a porta.
Ela poderia usar de artifícios, ser mais robusta, com filetes de ouro enfim ter tudo para chamar a atenção do andarilho, fazendo com que ele esqueça qual a real razão de ter chegado até ali, o que existe depois dela. Para isso foi criada, para abrir. A porta na verdade é a materialização de nosso comportamento sobre o aspecto do olhar interior.
Livre arbítrio, sob o direito de ter o que desejo, mesmo não tendo consciência plena das consequências.
É interessante e deliciosa caminhada em que abrimos portas e portões na nossa vida, com este texto, que é uma provocação a mais horas de conversa.

Bjs

Anónimo disse...

pobreza associo à do espirito, horrivel. a imagem sugere despojamento, limpeza, simplicidade, muito clean :P

jorge esteves disse...

Curioso como aqui, na associação da imagem com o texto, o branco, como por qualquer sortilégio, se torna duro, agreste, áspero, asséptico, crú...
Interessante trabalho este.

abraços!

Justine disse...

Fotografia limpa e despojada, ela ilustra bem o segundo sentido que atribuis à palavra.
Quando é uma escolha, a pobreza pode ser beleza. Como é a tua foto.
Beijo de bom fim de semana

vida de vidro disse...

Dou-te inteira razão. A pobreza como escolha, só se entende depois de se ter possuído o essencial ou algo mais. A outra pobreza é um total desacerto com a vida. **

bettips disse...

Uma porta que nos remete para o puro, a seguir, um quintal e ervas e pedras.

Uma escolha difícil, uma explicação "casada" no branco dos teus pensamentos.

Solange Estevens disse...

Um tema muito pouco tratado nas sociedades ditas ricas e consumistas. Tratado com muita sensibilidade, como é teu apanágio.

Debruço-me frequentemente sobre ele, e sobre a morte.

Não temo nenhuma das duas,em relacão a mim própria, claro.


Escreve, escreve sempre. Solange

Manuel Veiga disse...

despojamento é uma atitude um tanto ou quanto aristocrata. coisa rara...

a pobreza avilta-(nos).

inteligente. e sensível texto.

beijo

Marinha de Allegue disse...

Gustoume a imaxe da porta, cunha sinxela pechadura, que me lembrou as pechaduras da cas dos meus avós...

Unha aperta.
:)

audrey disse...

bonito, bonita fotog.

mas não gosto de chaves...
falta-me o ar

sou um eterno passaro errante..............


bjnh M.

(quando vais "lá"?...)

Licínia Quitério disse...

É uma foto sem mácula. A pobreza como despojamento, até ao aniquilamento, talvez. Uma abordagem metafórica que me deixa parada e em silêncio tentando ler todo o excesso que conseguiste retirar.

A tua marca inconfundível.

Marina disse...

M.

Nem sempre as imagens simples são pobres e esta está carregadinha de sugestões.
Cada observador vê o que conhece, logo a imagem será pobre para uns e rica para outros.

Na variedade é que está a verdadeira riqueza Beijinhos