quinta-feira, 24 de junho de 2010
O Prazer de Viajar - 1
Foto de M
Of course, SATA, I wouldn´t dare to walk outside this area…
Tenho bem a noção dos meus limites humanos, por isso nem o entusiasmo com que me instalei na barriga deste pássaro enorme ao encontro de cinco ilhas magníficas fundeadas no Atlântico me levaria à tentação de antecipar a aterragem.
Nunca foi desejo meu descer aos trambolhões entre azuis e algodão doce com a ideia de pôr os pés no chão antes da hora prevista, que tudo tem o seu tempo. Certo ou incerto, claro, todos nós o sabemos já de experiência feita, que essa particularidade é parte integrante da condição da vida. E com uma agravante, que pode ser também uma questão de fé: encontraria eu algum anjo de asas brancas disposto a amparar-me na descida e a pousar-me suavemente em solo firme? Supostamente firme, ou assim o desejamos, que a História por aquelas paragens bem tem provado o contrário.
É profundo o azul deste mar de baleias e golfinhos, láctea a espuma instável das ondas sobre as quais baloiçam barcos e cagarros ávidos de peixe. E a terra ali tão perto, em convivência espantosa de fertilidades e securas pardacentas de anos. Belíssima a presença das pedras negras na brancura das casas e nos muros que dividem campos de verde húmido. E as flores, tão harmoniosas em colorações várias, a debruar caminhos na vastidão do silêncio. Obedientes as vacas, o olhar ruminante e pensativo, pesando-lhes o leite na hora do passo lento para a ordenha. Discreto, quase tímido, o cântico dos pássaros à beira das lagoas abraçadas por árvores seculares que a bruma toca, diáfana e misteriosa.
Quem sabe não será toda esta exuberância que encontrei nos Açores uma espécie de presente oferecido, compensação generosa pelos acessos de mau génio, tantas vezes imprevisíveis, que levam as suas ilhas a cuspir o fogo e a lava que queimam a existência dos seus habitantes.
M
Subscrever:
Enviar feedback (Atom)
3 comentários:
...e não admira que demore...
o demorado pensar!
(mas virei às palavras mansas)
Beijo da bettips
Aterraste, então, sã e salva nas Ilhas Encantadas. As tuas suposições quanto à simultânea violência e doçura das ilhas é bem plausível:)))
E assim desci contigo da barriga do passaroco em seus limites e me deste a rever as ilhas maravilhosas, perdidas naquele mar enorme.
Enviar um comentário