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Foto de M
Toda a vida ouvi falar dela.
De início não sabia exactamente quem seria aquela I. que tanto desanimava uns como alegrava outros. Havia frases por completar a pairar por perto, proferidas algumas num lamento quase inaudível. Ai se não tivesse esta id…, palavras entaladas nos lábios, como que arrependidas, uma lágrima a luzir no rosto enrugado de alguém. E eu perdida nos mistérios da linguagem. Depois, de repente, num outro contexto, nova referência à I. a prender-me a atenção. Saída de uma outra boca, autoritária esta, lançada com impaciência às súplicas dos meninos meus amigos: Nem pensem, ainda não têm idade para isso! Diante da proibição severa, cruzavam-se braços tentando conter a contrariedade, os olhos lançavam chispas, a porta do quarto batia com força.
Na minha inocência de criança, a I. parecia ser um objecto que se comprava ou recebia, talvez um presente de aniversário, mas pelos vistos susceptíveis de recusa em determinadas situações.
Um dia, contando eu aos meus pais as interrogações que me assaltavam o espírito, responderam-me a rir: Já tens idade para ter juízo, cresce! E eu cresci, e compreendi quem era a I. e a ligação existente entre ela e cada pessoa. Tornámo-nos íntimas, convivência agradável, ritmos de vida conciliáveis, um ou outro desajuste sem relevância. No entanto, há uma particularidade sua que me tem causado alguns problemas nos dias de hoje: às vezes cala-se muito bem caladinha e, de repente, prega-me um susto. Antigamente achava-lhe graça e partilhava com ela essas brincadeiras infantis. Agora fico um pouco inquieta. Claro que isto é apenas um desabafo, não faço tenção de me zangar, deve estar esquecida de que já não sou uma miúda.
M