quinta-feira, 17 de novembro de 2011
157.
Foto de M
Olharam-se de esguelha. Ele, o bicharoco esquelético, agarrava-se à portada, não direi com unhas e dentes porque os não teria, mas com a possível elegância necessária às situações de equilíbrio em que os insectos se movem. Elas, rechonchudas e coradas do sol aldeão a crestar-lhes a pele, assim apanhadas de surpresa, sussurravam palpites sobre aquele ser de membros desproporcionados que lhes rondava o peitoril da janela. As opiniões divergiam. De onde virá? Que ousadia aproximar-se assim do nosso solário! Não acho, coitado, deve andar perdido. Vou perguntar-lhe o que procura… Nem penses, era o que nos faltava! Quero estar sossegada.
(Deu-me vontade de rir "o pernalta", porque me lembrei do homem-aranha dos filmes americanos a trepar arranha-céus downtown. Que contraste com a pacatez deste lugar chão!)
Não faço ideia se chegaram a entabular conversa uns com os outros ou se preferiram ignorar-se. Eu estava apenas de passagem. Atravessava as horas do meu dia de silêncios com a curiosidade fotográfica pendurada no ombro e isso bastava-me.
M
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4 comentários:
Também a mim me causou uma série de interrogações. Porque teria o "bicharoco" escolhido trajectória tão difícil? Partindo do princípio que na natureza tudo tem um propósito, calculo que buscasse abrigo, comida ou, quem sabe, vizinhança mais sossegada... :)
Encantador texto, M. Feliz de quem sabe dar voz ao que nos rodeia mesmo que seja inanimado, perceber as razões mesmo que sejam inventadas, saber povoar os nossos dias mesmo com as coisas invisíveis, que são as mais importantes.
E tu sabes, com o teu olhar sereno e sensível!
mágico...
bem sabemos que magia rima com poesia...
finissima dor a prepassar o texto.
belíssimo.
beijos
Um olhar que nos transporta para um outro lugar, um outro tempo. O banho de sol na fruta, a ousadia dos insectos, a cor das madeiras...
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