domingo, 11 de dezembro de 2011
162.
Foto de M
Gosto de livros empilhados. Lembram-me guardanapos de linho resguardados em prateleira de confeitaria aconchegada entre cores macias e palavras sussurradas.
O empregado estava atento. Assim que os clientes pagaram a conta e abandonaram a mesa ao pé da janela, retirou as chávenas e os pratos com as migalhas do lanche e colocou-os no tabuleiro juntamente com a toalha amarrotada. Regressou após alguns minutos. Estendeu sobre a madeira escura um novo quadrado de linho e dois guardanapos com as iniciais da casa bordados no canto, alisou os vincos com a ponta dos dedos e afastou-se.
Ela entrou, sem pressa, e dirigiu-se para a mesa acabada de preparar. Pousou distraidamente o livro que trazia na mão em cima de um dos guardanapos, pendurou a mala nas costas da cadeira e sentou-se.
O empregado aguardou que ela se acomodasse e aproximou-se com a lista para que escolhesse o que desejava tomar. Só um momento, por favor, estou à espera de uma pessoa. Não demorará, penso, disse, ao mesmo tempo que o fitava com atenção, o sorriso a abrir-se-lhe nos lábios.
Pegou em seguida no livro, reabriu-o na página marcada com uma fotografia, leu meia dúzia de linhas e voltou a fechá-lo, ao mesmo tempo que o empurrava ligeiramente para cima do guardanapo ao seu lado. Virou a cabeça para a janela. Tinha agora o olhar longe, para lá da cortina. Esfolheava o seu pensamento.
M
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4 comentários:
Gostei muito do teu texto, M. : partes do exterior e vais até ao mais fundo, ao que não se vê mas se sente!
Das companhias
invisíveis.
Um texto belo de hoje, de partilha de todos os dias em que
a cadeira
o tempo
o modo de sentir.
Que nos distraia o livro, a palavra.
Abç da bettips
fora Eric Rohmer e filmaria...
de tão belo e expressivo.
beijo
Vir aqui representa, invariavelmente, uma experiência "aconchegada entre cores (e palavras) macias", que nos oferece uma visão única e a partilha de um pensamento pulsante.
Obrigada, M.
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