sábado, 14 de janeiro de 2012
O Prazer de Viajar - 54
Foto de A.
«Debruçado sobre a popa do vapor, vi-as, pouco maiores do que andorinhas, todas pretas e com uma pinta branca ao pé do rabo, passar e repassar em bando pela água remexida da hélice, pela água esbranquiçada de sabão, mergulharem, levantarem, voltar ao redemoinho. E isto sempre, sempre, a poder de asas e no alto mar, muito longe da terra. São as pardelas, que nunca deixam de acompanhar a hélice, procurando o alimento na água revolvida e acompanhando o vapor pelos sítios mais arredados do oceano Atlântico. Os marinheiros, que nunca as vêem pousadas, e quando olham as encontram sempre voando na esteira do barco, dizem que fazem o ninho debaixo da asa. Este frenesi, este bater de asas, esta fragilidade incansável na solidão tremenda do oceano, deram-me uma impressão de vida e de frescura extraordinárias, como se eu visse estes bichos, nados e criados no mar, saírem das suas entranhas.»
Raul Brandão, As Ilhas Desconhecidas – Notas e paisagens, Edição Artes e Letras, Açores, Setembro de 2009
(Algures no Atlântico, entre as ilhas dos Açores)
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3 comentários:
Quem sabe, tudo pode acontecer nas Ilhas Encantadas!
Estas duas barbatanas brancas sobre o azul: como se um peixe de espuma seguisse o barco.
Ou asas.
a magia do (in)esperado.
boa companhia. a do Raul Brandão.
beijo
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