Foto de Justine proposta para o desafio Com as palavras dentro do olhar, em 21 de junho de 2012, no Palavra Puxa Palavra
E
pôs-se ao caminho.
Recebera a notícia no dia anterior, escondia-se então o sol para lá da serrania, mas não ousara enfrentar a noite pois conhecia os seus azedumes ventosos no início da primavera. Preferiu esperar pela manhã, que sabia habitualmente mais amena por aquelas paragens.
Levantou-se cedo, abriu as portadas do quarto para perscrutar os campos em redor da casa e preparou-se para sair. Vestiu a roupa deixada de véspera sobre a cadeira à beira da cama, calçou os sapatos com sola de borracha grossa e fechou-se na casa de banho. Não se demorou. Apareceu daí a minutos na cozinha com o cabelo bem penteado preso no alto da cabeça com o seu gancho predileto, olhou para mim e sussurrou-me um Bom dia. De pé, mastigou à pressa o naco de pão de centeio que lhe ofereci para acompanhar o café quente bebido de um trago, o pensamento longe na distância da paisagem invisível. Em seguida pousou a caneca em cima da mesa de madeira escurecida pelos anos e enfiou o pesado capote de lã serrana. Abraçou-me então demoradamente e saiu de casa encostando a porta sem fazer ruído.
Fiquei a vê-la por detrás das vidraças. Reparei que estremeceu um pouco ao sentir no corpo a friagem matinal enquanto, com mão firme, aconchegava o cabeção do casaco ao pescoço para se proteger dos farrapos de neve que teimavam em descer sobre os seus ombros.
Não olhou para trás, não voltei a ver-lhe o rosto, mas adivinhei nele a determinação de sempre.
Recebera a notícia no dia anterior, escondia-se então o sol para lá da serrania, mas não ousara enfrentar a noite pois conhecia os seus azedumes ventosos no início da primavera. Preferiu esperar pela manhã, que sabia habitualmente mais amena por aquelas paragens.
Levantou-se cedo, abriu as portadas do quarto para perscrutar os campos em redor da casa e preparou-se para sair. Vestiu a roupa deixada de véspera sobre a cadeira à beira da cama, calçou os sapatos com sola de borracha grossa e fechou-se na casa de banho. Não se demorou. Apareceu daí a minutos na cozinha com o cabelo bem penteado preso no alto da cabeça com o seu gancho predileto, olhou para mim e sussurrou-me um Bom dia. De pé, mastigou à pressa o naco de pão de centeio que lhe ofereci para acompanhar o café quente bebido de um trago, o pensamento longe na distância da paisagem invisível. Em seguida pousou a caneca em cima da mesa de madeira escurecida pelos anos e enfiou o pesado capote de lã serrana. Abraçou-me então demoradamente e saiu de casa encostando a porta sem fazer ruído.
Fiquei a vê-la por detrás das vidraças. Reparei que estremeceu um pouco ao sentir no corpo a friagem matinal enquanto, com mão firme, aconchegava o cabeção do casaco ao pescoço para se proteger dos farrapos de neve que teimavam em descer sobre os seus ombros.
Não olhou para trás, não voltei a ver-lhe o rosto, mas adivinhei nele a determinação de sempre.
M
2 comentários:
Ambas as duas/quatro nos remetem para o parco equilíbrio: da visagem/viagem sonhada, do cardume que passa sob as águas, da água desfeita dos olhos, da pedra que não se apaga.
Bjs da bettips
Uma recriação de paisagens agrestes, vidas difíceis, realidades duras. Muito belo, M.
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