quinta-feira, 25 de outubro de 2012

181.


Foto de M 
(Claustro do Mosteiro de Santa Clara-a-Velha, em Coimbra)

 
Uma espécie de osteoporose no corpo da História. À semelhança dos nossos corpos de gente anquilosada descrente dos desempenhos de articulações e rendilhados ocultos dentro desta enorme complexidade que nos habita. Desconfortos. Parafusos e barras de titânio a segurarem-nos, a manterem-nos de pé, recompondo as nossas vidas, cicatrizes assinalando as nossas histórias muito particulares. Valem-nos os ortopedistas. E os arqueólogos. E os antropólogos. E os sociólogos. E os historiadores. E os cientistas. Todos eles ávidos de entendimento do universo, à procura do que nos explica e explica a vida nas suas semelhanças e diferenças ao longo dos séculos. E os artesãos. Sem pressas, o perfeccionismo guiando o ritmo de cada gesto, a imaginação em permanente viagem entre o real e o simbólico, entre o todo e o detalhe que as suas mãos são capazes de imprimir nas pedras de todos os tempos, talvez eles sejam... Sim, talvez eles sejam presenças especiais onde encontramos conforto perante a dolorosa consciência da fragilidade do mundo terreno. Porque, ao deixarem tantas vezes a sua marca de criatividade sublime na arte que fazem, exprimem o desejo de Beleza imensa sentido pelo ser humano e assim a imortalizam. Apesar das ruínas e por causa delas.

M

2 comentários:

Anónimo disse...

Que por vezes os braços ao alto, ligados por parafusos...
Ou as pernas "ao baixo" ligadas pelo tal titânio...
Ou outros arranjos para irmos vivendo e emprestar parte da nossa vida a outros.
Sem cabeça é que não! E muito menos sem coração.
Nestas, contemplemos unicamente a beleza reconstituída e o azul imenso. E pasme-se pelo ressurgimento a partir da água que o submergiu.
22 metros de aprofundamento de muro???
Nem sei se ouvi bem...
Bj da bettips

Manuel Veiga disse...

pedras vivas. que se alevantam em teu texto...

beijo