sexta-feira, 23 de maio de 2014

204.


Foto de M

Eu estava de passagem e assisti, por mero acaso, àquela cena de teatro ao ar livre e às orientações dadas pelo fotógrafo encenador aos atores principais. Estranha ideia a sua de os mandar pôr os braços atrás das costas e as mãos enfiadas nos bolsos, gestos que me pareceram inestéticos e soltos num momento que supostamente se desejaria fixado para a posteridade como de partilha de emoções perante a beleza. Ouvi-o e vi-o estender o véu da noiva sobre as pedras, observei a sua azáfama a compor o cenário dentro daquele outro cenário bem mais interessante que é a velha Gordes equilibrada entre a terra e o céu. Continuei o meu caminho, eles ficaram. Não sei por quanto tempo. Só espero que, no seu zelo coreográfico, o fotógrafo não os tenha forçado a fecharem os olhos. Na beirinha havia um precipício... 

M

203.


Foto de M 

Será talvez assim parte da palidez da existência: uma correnteza de histórias anónimas morrendo à beira dos passos de quem caminha ainda de mão dada com a vida.

M