quinta-feira, 10 de julho de 2014

206.


Foto de M

Azáfama à beira-mar. Negócio de família, passado de geração em geração. Que importa se a receita do bolo de morangos não é exatamente a mesma da bisavó? Que importa se as mãos são outras? Lembram... pois, não admira. Ah e aquele sinalzinho a parecer um salpico de canela sobre a pele macia da menina? Percalços de pasteleiro. O formato moderno do balde, em plástico, tão frágil, estraga-se num instante, parte-se, pensarão os adeptos de materiais mais resistentes. Não tem importância, até é divertida a leveza do modelo comparado com os de tempos idos. Talvez este seja Made in China. Ou terá a marca de alguma pequena fábrica portuguesa do centro do país gravada no fundo? Não faço ideia. Para satisfazer curiosidades precisava de o virar ao contrário. Impensável, não quero provocar desilusões. Tanto cuidado a alisar a superfície do bolo, quase pronto para ser metido no forno ao ar livre, amplo e comunitário, a temperatura desejada ideal... Entornava-se a massa, tenho a certeza, e lá ia por água abaixo – com a agravante de ser salgada - a festa de anos imaginada, mais as velas e os enfeites, arrumadinhos ali ao lado, à espera do momento cantado.
Repetem-se os gestos, ainda que a areia escorregue entre os dedos, e permanece o sabor de infâncias comuns numa confeitaria à beira-mar.

M

3 comentários:

Anónimo disse...

Palavras de brincar e traços da ternura! Tão bonito M., ambos.
B.

Justine disse...

Como eu gosto ( e de certo modo invejo!)a tua capacidade de te pores na cabeça das crianças, de as perceberes nos seus jogos de "faz-de-conta"...
Até já :-))

jorge esteves disse...

...e se o bolo, por qualquer desatino do mar ou de um pé mais distraído, ficar estragado, não tarda aí a mulher da bolas de Berlim ou o homem da 'bata frita à inglesa'. E serve!
jorge