domingo, 23 de julho de 2017

231. O MEU PÁSSARO - Dia 1


Foto de M

Noutro dia fui ao Jardim Gulbenkian e apaixonei-me por um pássaro que encontrei empoleirado num raminho. Achei graça ao nome Chapim-Real escrito na etiqueta presa numa das suas patas e logo me surgiu diante dos olhos a imagem de passaritos a chapinharem e a bebericarem em poças de água junto da relva. Fiz-lhe uma festa e ele cantou, como se quisesse dizer-me qualquer coisa. Decidi trazê-lo comigo. Apanhei algumas folhas do chão para lhe preparar um ninho dentro de um saco de papel e pousei-o lá devagarinho, deixando uma abertura suficientemente grande para que pudesse sentir-se confortável a olhar o céu enquanto caminhávamos. Pareceu-me um pouco assustado, uma reacção natural, não me conhecia nem sabia para onde era levado. Pensei que ajudaria a acalmá-lo dizer-lhe onde eu morava, ir-lhe falando de mim, dos objectos que fazem parte da minha vida, do chilrear que oiço manhã cedo no parapeito da janela do meu quarto, dos jardins que espreitam entre os prédios do meu bairro, das varandas floridas onde pousam pombos.
Depois de abrir a porta de casa, arrumei a mala e as chaves no lugar habitual e dediquei-me ao Meu Pássaro. Retirei-o cuidadosamente do saco e, ainda com ele seguro na concha das minhas mãos, peguei na tesoura que guardo na gaveta da escrivaninha que me espera sempre no hall de entrada e cortei a tal etiqueta com o nome Chapim-Real que o impedia de mexer as patas à vontade.
Larguei-o. Surpreendeu-me. Esvoaçou timidamente através da minha sala de estar e escondeu-se atrás das cortinas. Vou dar-lhe tempo. Talvez amanhã já se sinta à vontade para explorar os recantos de que lhe falei durante o trajecto para aqui. Há-de lembrar-se.
 
M

3 comentários:

Isabel disse...

Que história tão bonita...mas o passarinho é verdadeiro? Tão lindo!

beijinhos e...fico à espera dos dias seguintes!

Anónimo disse...

Há... um pássaro na mão e dois a voar! Um em casa e todos no tempo.
(tenho de ler/depois devagar, como ir ao mar de vagas inconstantes)
Bj
B

Justine disse...

Manuela, li a correr, como o teu texto NÃO merece! voltarei, com todo o tempo do mundo.
Um beijo