Foto de M
1. A Luz dos Lugares
A luz dos lugares tem afinidades com os que lhe são íntimos ao longo de muitos anos.
Em tempos idos, nem as paredes da casa nem as crianças que ali viviam os meses de verão se importavam com as respectivas estaturas. Existia aquela espécie de porta de casa de bonecas que abria e fechava à passagem desenfreada de meninos em busca de brincadeiras novas e pronto, tudo era festa. Apenas os adultos mostravam algum cuidado ao entrar e sair, não fossem as suas cabeças supostamente experientes provocar litígios com o lintel da porta, ao ponto de criarem galos onde ninguém pensa que cresçam, ou verem pássaros a esvoaçar entre estrelas coloridas. E porque, como diz o ditado popular Cada um em sua casa é rei, esses nossos conhecidos de penas apresentam-se sem dúvida mais garbosos quando anunciam um novo dia nas manhãs orvalhadas ou debicam nos campos de terra batida acompanhados da sua prole.
Ora aconteceu que alguém com artes de desenho, prevendo que os meninos medram como as culturas na aldeia, teve a ideia brilhante de ali colocar um aviso divertido para evitar problemas aos distraídos. E passou a velha casa de grossas paredes de pedra, que em tempos tinha sido curral de cabras, a sentir-se honrada com as vénias que a todo o momento lhe são prestadas. E nós felizes por podermos continuar a observar constelações de estrelas no céu das noites límpidas de verão.
Ora aconteceu que alguém com artes de desenho, prevendo que os meninos medram como as culturas na aldeia, teve a ideia brilhante de ali colocar um aviso divertido para evitar problemas aos distraídos. E passou a velha casa de grossas paredes de pedra, que em tempos tinha sido curral de cabras, a sentir-se honrada com as vénias que a todo o momento lhe são prestadas. E nós felizes por podermos continuar a observar constelações de estrelas no céu das noites límpidas de verão.
M
3 comentários:
Um texto encantador,, M., sempre com a "humanização" das coisas supostamente sem sentimentos,, como nessa história a velha casa de família.
Bom recomeço!
Foi uma das coisas engraçadas em que reparei, o desenho. A casa antiga, mil pormenores vividos, de portas baixas, a macieira em diálogo com a janela da cozinha, "o lugar" dos sentimentos que nos prendem a sítios, específicos, da memória.
E que lugar melhor para observar as estrelas a sério, senão num céu de aldeia, de caminhos pouco percorridos?
Torno a dizer/escrever hoje: OXALÁ
... se possa, se consiga, ver e sentir, a campânula azul de uma noite estrelada.
Bjs
Aconchegado, tépido e brando como tudo que fica doce na memória.
Abraço.
jorge
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