terça-feira, 19 de maio de 2020

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Foto de M

Amanhecer é palavra luminosa. Supõe desejo. Desejo de mudança, de abandono do que se não quer mais, ou de continuidade, de concretização de pensamentos felizes. Amanhecer é uma palavra linda e é movimento, é o despertar da Natureza e o nosso de seres humanos inseridos nesse ritmo natural a que pertencemos. É abrir os olhos devagarinho e esperar que se habituem à luz, é mandar o sono embora, é empurrá-lo para fora das horas que são outras, é levantar da cama e escancarar as janelas, é respirar frescura, é planear, é sonhar. Ah mas que fazer quando a Natureza fica lá fora e eu tolhida na triste repetição dos passos, sempre os mesmos, esbarrando em minutos lentos? Onde procurar alegrias para alimentar o meu amanhecer sem agenda de futuro? Tento encontrá-las nas pequenas coisas, na memória de momentos vividos entre amarelos e silêncios campestres, na lembrança de gestos afectuosos. Dentro deste saco, feito e oferecido como manifestação de boas vindas pela dona do pequeno hotel onde fiquei uma vez que visitei Serpa com amigos, guardo as molas da roupa. Gosto muito de sacos, têm a macieza das recordações dos lugares que me encantam. E neste sol em miniatura, que também pode ser uma flor, ponho a esperança de um dia voltar ao Alentejo.

M

(Este meu texto fez parte do primeiro desafio de Maio proposto pela Justine no Palavra Puxa Palavra para ajudar a passar o confinamento. O tema era As alegrias do meu amanhecer)

1 comentário:

bettips disse...

Aqueles amanheceres de Serpa e da varanda do quarto são assim mesmo: luminosos!
Tenho uma série de fotos dessas manhãs, com galinhas, sem galinhas, uma casita ao lado entre oliveiras, uma casa de DESEJO!