Foto de S. (Alucinação)
Brincando
com a Clarividência
−
Boa tarde. Faça favor,
sabe dizer-me se estou muito longe do salão de baile da
clarividência?
−
Boa tarde. Não conheço
esse local. É de alguma associação? Se me perguntasse por
clarividências, ainda lhe dizia que conheço por aí algumas, mas
vivem em apartamentos apertados, e nesses não me consta que existam
salões de baile...
−
Estarei então a seguir
pelo caminho errado? Uma amiga garantiu-me que se rodopiasse chegaria
lá. Não compreendo, ela parecia tão segura da informação que me
deu...
−
Rodopiasse? Com o que
leva nos braços?! Parece-me tarefa de peso… Não se sente cansado?
Um esforço desses não se aguenta durante muito tempo.
−
Eu gosto de dançar,
sabe, cansado não direi que me sinto, apenas um pouco enjoado, e
confundido.
−
Não me admiro. Mas…
desculpe, não estará enganado? Tem a certeza de que percebeu bem o
que lhe disseram? É que nunca ouvi falar nesse salão de baile, só
conheço as tais clarividências, e mesmo essas, só de vista… Não
se tratará de alguma associação sem fins lucrativos com um espaço
comum aberto a quem dele quiser usufruir? Às vezes têm salões
amplos e polivalentes. Bem falta faz nesta terra.
−
Sei lá o que pensar.
Talvez eu não tenha compreendido bem o que a minha amiga me disse.
Ou então é uma amiga da onça que se diverte à minha custa, a
ver-me neste desatino… Bom, vou continuar o meu caminho, espero
encontrar o que procuro. Obrigada pelo tempo que o fiz perder.
−
De nada. Espero que
consiga tirar essa dúvida…
−
Qual? Tenho tantas…
−
Olhe, a que menos
incómodo lhe trouxer aos braços, e que não o impeça de rodopiar,
já que gosta tanto. Para além da onça, que sempre pesa qualquer
coisa…
−
Isso não me preocupa.
O pior é as vertigens que, com tanta volta, começam a afligir-me.
Tenho tendência para elas. Ou elas para se agarrarem a mim. Olhe, já
nem sei. Boa tarde.
M
(2006)
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