Foto de S. (Fim de tarde na parede)
Bolas
de Sabão
Este
vício de ir buscar o passado e de o trazer pela mão até ao
presente…
Quando
eu era menina, gostava de me sentar junto de uma das janelas de
sacada do terceiro andar onde vivia segurando no colo uma tacinha
com água e sabão azul em pequenas lascas que eu mexia com um canudo
de cartão. No tempo em que as linhas de coser eram enroladas em
canudos de cartão que, depois de despidos das suas vestes de algodão
fino, deixavam de ter préstimo na caixa de costura da minha mãe.
Ah, como era bom soprar, soprar, soprar aquela mistura aquosa e ver
até onde crescia cada bola! Um desafio, quase uma luta corpo a
corpo, e aguardar que elas se soltassem e se escapassem janela fora,
embebidas nas cores do arco-íris. Como era engraçado vê-las a
balançar na extremidade do tubo, parecendo indecisas − vou,
não vou?...
−, e segui-las no seu voo livre! E depois desejar que se
aguentassem na sua fragilidade, que se misturassem com o azul do céu,
que não rebentassem nunca. Mas algumas explodiam de imediato,
reduziam-se a nada, viviam apenas instantes breves de cor e cristal.
Oh! E eu voltava a soprar esses instantes, compulsivamente, até que
eles se esgotassem dentro da taça que a minha mãe me tinha dado e
que eu abrigava no colo.
Às
vezes penso que a vida não é mais do que uma bola de sabão,
daquelas que fazemos quando somos crianças.
M
(2005)
3 comentários:
Duas gotas de água penduradas no arco-íris, uma beleza imaginada!
B
a fotografia é intrigante, é uma montagem?
Também fiquei intrigada...
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