Foto de S. (Um estranho silêncio)
O
Entardecer no Mercado
Repete-se
o entardecer em cada dia que se esbate. Cai sobre o mercado como uma
espécie de morte que, invejosa das azáfamas dos vivos, as contém
lançando sobre elas pequenos mantos de silêncio branco. Tapa
balanças, anula pesos e medidas, ignora contas, esconde víveres,
esvazia caixotes, abriga verduras em gavetas de frio, neutraliza
aromas, varre pegadas de cansaços, espalha águas sobre a vida, cala
vozes, esmorece risos, suspende passos e gestos, amarelece cores.
Quando tudo está a seu gosto, vai-se embora sorrateira levando
consigo as flores, apenas as flores. A morte sabe que precisa delas
para se manter viva e que, se as deixar morrer, a sua existência
será ainda mais solitária.
M
(2006)
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