sexta-feira, 11 de setembro de 2020

IMAGINAR

 

 

 

 

 

 

 

 

Foto de M 

Imaginar provoca-me, leva-me para lá do meu mundo mais restrito. Num misto de realidade/fantasia me divirto e me enquadro no que me rodeia, até porque nem sempre distingo entre o que é e o que parece ser.  

Idalina saía todas as manhãs, o cabelo ainda ruivo enrolado nos dias de sempre para não esquecer a cor dos anos. Ia a pé até ao jardim próximo de sua casa, sabia-lhe bem encontrar gente na rua, cruzar-se com as rotinas de alguns, imaginar vidas que desconhecia. Nunca tinha pressa, o portão de ferro forjado do jardim estava já ali, reconhecia-o à distância, pronto para a receber. Bastava aproximar-se e ele abria-se de forma mágica. Idalina sorria, parecia que lhe fazia uma vénia, como as que via nos pares a dançar a valsa em salões enormes cheios de brilhos e pedras preciosas dos filmes antigos. Deixadas para trás as tais memórias “só de filme” (dizem alguns), subia então a álea que a levava ao recanto verde com o banco encostado ao muro onde gostava de se sentar a recuperar da caminhada. Recostava-se nele de olhos fechados e às vezes quase adormecia. Abria depois a mala pousada a seu lado, retirava de dentro as agulhas de tricô e tricotava as horas em entremeios de lembranças.

M

3 comentários:

Justine disse...

Belíssimo, M.! e a fotografia, um primor!

Anónimo disse...

Como os prédios geométricos, o véu de noiva em despedida e Idalina lentamente sonhando o enxoval perdido, são tranfigurações das tuas várias vidas e espíritos.
Muito boas, formas e conteúdos.
B

Mónica disse...

será que é o caracol que observa a Idalina e nos relata a rotina dela?