A CAIXA DO JOGO DE DAMAS
Esta quase centenária caixa de Jogo de Damas chegou às minhas mãos em estado decrépito digno de compaixão e por aqui ficou posta em sossego na prateleira de uma estante, não fosse ela desconjuntar-se completamente ao menor toque do mais bem intencionado curioso. Não faço ideia da sua linhagem ou de quem passou serões usando estratégias e tácticas para se tornar o vencedor da noite, nem sei a razão por detrás daquele estado de abandono físico. Até as suas peças me faziam dó, coitadas, permanentemente enclausuradas, impedidas de verem fosse o que fosse fora de portas. Posso conjecturar sobre motivos vários, claro, como o natural desgaste dos anos, por exemplo, ou o descontrolo de alguém com dificuldades em se aceitar perdedor, ao ponto de atirar tudo pelo ar. Conheço explosões dessas desencadeadas por pequenos jogadores do sexo masculino em aprendizagens de afirmação. Pelo que vou observando, parece-me que as raparigas são geralmente mais pacientes em competições desta natureza e aproveitam as estratégias e tácticas usadas no jogo para as aplicarem com sucesso na sua vida.
Mas voltando à caixa… Sempre gostei dela, apesar do estado degradado, o fecho delicado um pouco lasso, e pensei que valia a pena tentar dar-lhe uma oportunidade de se tornar mais apresentável.
O tempo foi correndo e eu com o pensamento na caixa. Encontrei então por mero acaso um velhote habilidoso que lhe restituiu a antiga dignidade, da qual nunca tive dúvidas seria merecedora.
M
(Fotos de M)