Foto de M
Gosto deste banco em formato pensado por
alguém de quem não conheço o nome e a intenção de nele colocar uma divisória entre
assentos, cada qual virado para seu ponto cardeal. É bonito e um pouco diferente
dos habituais bancos encontrados nos jardins. Este parece deixar em aberto uma
diversidade de propostas: mostrar paisagens conforme o lado de quem
nele se senta, sugerir proximidades ou afastá-las, servir de cavalinho de
carrossel a meninos irrequietos… Fica a escolha para quem nele quiser sentar-se.
A mim apenas me agradaria acolher-me ali sozinha ou lado a lado com familiares e
amigos, jamais de costas voltadas, a não ser por brincadeira de zanga inventada
por crianças. Se encontrasse parte do lugar ocupado por desconhecida alma
solitária, procuraria outro poiso. Nem junto dela nem encostada ao lado oposto da
trave, a que chamo terra de ninguém, ousaria eu pôr em perigo a bolha de um desconhecido.
Ou a minha própria bolha. Bolhas?! Sim, cada pessoa tem a sua e só a rebenta quando
e a quem permitir que lha rebente. Conhecemos lá nós o tamanho e o conteúdo das
bolhas das pessoas! Nem a pergunta Dá-me licença que me sente? me garantiria
um momento aprazível, ainda que breve. Claro, podem existir erros de percepção.
Pois é, complexos são os assuntos que pertencem ao Universo no seu todo. Por isso,
indiferentes aos relacionamentos humanos, descansam ali serenas as folhas caídas
das árvores à espera que o vento do outono as leve como pássaros para outros
lugares. Nada mais lhes interessará.
M