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Tirar as palavras da boca a alguém não me parece aconselhável. Há quem não aprecie ser antecipado na expressão do seu pensamento, uma espécie de roubo no seu tempo pessoal de ser e estar. Ui e então entre crianças crescem as queixas, os amuos, os ciúmes, as lamúrias. Eu é que quero contar a história toda, não és tu, eu é que vi o cão, eu também o vi, não viste, vi e sei o que lhe aconteceu, não sabes, mãe, pai, mandem calar a mana, não é justo… Alguns meninos até choram baba e ranho (os lenços de papel são úteis nestes casos), como estes do postal que a minha Mãe me enviou da Alemanha em 1952. E por acaso a menina com o cabelo escuro estilo punk, no lado esquerdo da fila do meio, até me lembra retratos meus com dois anos. Nessa idade eu não era pessimista nem de grandes choradeiras, e assim me mantenho, mas compreendo que certas situações nos façam perder a calma, como tirarem-nos as palavras da boca, por exemplo. Nem que seja pelo entusiasmo genuíno de alguém que me ouve por uma imaginada, ou desejada, concordância de ideias comigo, não gosto que isso me aconteça. Simplesmente porque os ouvintes às vezes não acertam no que pretendo dizer. Nem quando termino as frases, quanto mais no início ou a meio delas.
M
1 comentário:
A "punkezinha" é a que parece mais surpreendida e não assustada como demonstra o bravo medo e choro dos outros. Felizmente não pessimista!
E em 1952 penso que a Alemanha devia ser um caldo de emoções contraditórias.
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O falar entre duas pessoas pode ser bem difícil ao sobrepor palavras aos pensamentos dos outros. Mas todos estamos sujeitos a isso quando estamos com à vontade suficiente para ultrapassar impaciências. Muito mais interessante é "saber ouvir", atrevo-me a considerar uma arte. Sem afirmações ou interrogações. Com empatia.
Tenta-se.
B
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