domingo, 17 de agosto de 2008

77.

Foto de M

Quem quer que tenha composto esta montra deve entender de comportamentos humanos, ou não se lembraria de colocar ali aquelas luvas em gesto de gente. Contrastando com as outras, um pouco mais na sombra, hirtas e em declive, apartadas dos pares que as completam, como se anónimas fossem, ignorada a cor, esquecidos os botões.
Mas voltando às luvas em gesto de gente, é curioso que imagino mãos dentro delas. As mãos de alguém que se reconhece ao tocar-se e assim se deixa ficar, os dedos mostrando um certo relaxamento. Talvez a expressão de quem aguarda com serenidade o que o mundo lhe traz em cada instante que passa. Ou, pelo contrário, posso também pensá-las em desalento, como sinal do que sente quem já pouco ou nada espera. Apesar das flores plastificadas, ou até por isso mesmo, e assim permanece abúlico, resguardado em pespontos. Ou, ou, ou… Tantas as suposições, tão diversos os rostos a elas associados!
M

6 comentários:

Justine disse...

A tua reflexão sobre esta belíssima e delicada foto tem uma face luminosa, outra face nostálgica.Mas é poético manter insondável o significado de um gesto enluvado...

Manuel Veiga disse...

a subtil linha das tuas reflexões. que ilumina as mais "sólidas" teorias.

todas as coisas "falam". importa é saber decifrá-las...

excelente.

beijos

vida de vidro disse...

Um olhar reflexivo e criativo. Na verdade, pode ser tão variada a "linguagem" dessas luvas... :)**

bettips disse...

Acenam soltas e às vezes a um grupo que passa.
Pousam-se uma sobre a outra e esperam olhos e dedos compreensivos.
Bj

jawaa disse...

Gostei de ler-te aqui, nesta reflexão prosaica.
Bjinho

tchi disse...

Concordo contigo.

:)