Foto de M
Reparei
que olhava com atenção para a taça que eu tinha acabado de pousar
sobre o velho móvel de família à entrada de casa.
-
Gostas? - perguntei-lhe. - Pareceu-me, pelo teu olhar silencioso...
-
Gosto. – Sorriu. - É bonita.
-
Para mim é uma espécie de taça da vida. Foi oferecida aos teus
avós maternos quando casaram. Sempre a vi lá em casa. Em dias de
festa a minha Mãe cobria o fundo com um naperon de linho bordado
para ali aconchegar uns biscoitos deliciosos cozinhados por ela. De
resto, permanecia em cima do aparador, vazia. O seu rendilhado
encanta-me. Ao fim destes anos todos resolvi guardar dentro dela as
pedrinhas que me têm sido oferecidas por amigos, algumas apanhadas
nos campos por onde passeamos. Pedacinhos da Natureza que me
recebe... Ah como são belos aqueles tons!
-
Uma taça de memórias – disse, dando-me um beijo. - Os tons...
encontra-os também agora dentro de si, não é?
M
2 comentários:
Coloridos ténues e rosas do deserto, no rendilhado do tempo: imaginamos os biscoitos, a suavidade, o naperon bordado, o aconchegar das mãos. Imaginamos o tempo em que o deserto de sermos era mais "habitado".
Bjs da bettips
Um texto poético, nostálgico, em tons de outono (não é?).Um texto de quem viveu muito e tem muito para dar, em memórias e em emoções!
Belíssima taça, M.!
Enviar um comentário