domingo, 27 de janeiro de 2013

188.


Foto de M 

Reparei que olhava com atenção para a taça que eu tinha acabado de pousar sobre o velho móvel de família à entrada de casa.
- Gostas? - perguntei-lhe. - Pareceu-me, pelo teu olhar silencioso...
- Gosto. – Sorriu. - É bonita.
- Para mim é uma espécie de taça da vida. Foi oferecida aos teus avós maternos quando casaram. Sempre a vi lá em casa. Em dias de festa a minha Mãe cobria o fundo com um naperon de linho bordado para ali aconchegar uns biscoitos deliciosos cozinhados por ela. De resto, permanecia em cima do aparador, vazia. O seu rendilhado encanta-me. Ao fim destes anos todos resolvi guardar dentro dela as pedrinhas que me têm sido oferecidas por amigos, algumas apanhadas nos campos por onde passeamos. Pedacinhos da Natureza que me recebe... Ah como são belos aqueles tons!
- Uma taça de memórias – disse, dando-me um beijo. - Os tons... encontra-os também agora dentro de si, não é?

M

2 comentários:

Anónimo disse...

Coloridos ténues e rosas do deserto, no rendilhado do tempo: imaginamos os biscoitos, a suavidade, o naperon bordado, o aconchegar das mãos. Imaginamos o tempo em que o deserto de sermos era mais "habitado".
Bjs da bettips

Justine disse...

Um texto poético, nostálgico, em tons de outono (não é?).Um texto de quem viveu muito e tem muito para dar, em memórias e em emoções!
Belíssima taça, M.!