Silhuetas de amigos
(Foto de S.)
Podia ser o título de um filme
Silhuetas de
amigos.
Podia ser o título de um filme a preto e branco. Mudo, com gestos
apenas, daqueles em que se adivinham os afectos por detrás das
fisionomias, desenrolados no mutismo da bobina, o argumento saltando
para o ecrã do nosso silêncio. O silêncio do entendimento das
imagens sem voz audível dentro de nós, o prazer da conjectura sobre
o que não é claramente revelado.
Julgo que o ritual da pesca é também calado e pensativo, cada gesto lento, avaliado antes de a linha ser lançada longe. Um diálogo de palavras guardadas entre o pescador e a cana de pesca, expectativas atiradas sobre a água que corre mansa, desejos que flutuam, que mergulham, que desafiam. A tentação espetada no anzol, e o peixe lá em baixo, um pequeno isco atravessando-se na sua estrada azulada, obrigando a um desvio de caminho, a uma paragem. Um salto, um paladar a experimentar, um sabor a que se não resiste, um puxão na linha, um sinal rapidamente enrolado no carreto. Uma desilusão agarrada ao anzol? Que importa? Existem mais engodos miúdos dentro da cesta à espera dos dedos hábeis do pescador.
Julgo que o ritual da pesca é também calado e pensativo, cada gesto lento, avaliado antes de a linha ser lançada longe. Um diálogo de palavras guardadas entre o pescador e a cana de pesca, expectativas atiradas sobre a água que corre mansa, desejos que flutuam, que mergulham, que desafiam. A tentação espetada no anzol, e o peixe lá em baixo, um pequeno isco atravessando-se na sua estrada azulada, obrigando a um desvio de caminho, a uma paragem. Um salto, um paladar a experimentar, um sabor a que se não resiste, um puxão na linha, um sinal rapidamente enrolado no carreto. Uma desilusão agarrada ao anzol? Que importa? Existem mais engodos miúdos dentro da cesta à espera dos dedos hábeis do pescador.
Acção!
De novo o
ritual da cilada, luz e sombra, contrastes na paisagem. Há que
respeitar o fim do filme: um peixe preso num voo contrafeito,
dançando o seu último bailado prateado a solo, pingando azul sobre
o sorriso do pescador, debatendo-se a seus pés com a vida.
Desistindo dela, impotente perante a degustação adiada de um homem
paciente.
M
30 de Outubro de 2005
2 comentários:
Podia ser a acção de um filme. Poia. Mais me parece, no entanto, uma aguarela em tons de azul - talvez tirado ao mar - sobre pescadores.
Gostei.
abraço.
Estive aqui, a ler o guião - sempre será incompleto.
Bj
B
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