quarta-feira, 4 de abril de 2018

252.


Foto de M 

Este frasco de elixir ofereceu-mo uma amiga. Tinha dentro um saco pequeno, daqueles todos dobradinhos para trazer na mala, preparados para os imprevistos que não cabem nas nossas mãos. Azul macio, com pássaros amarelos de asas abertas prontas a esvoaçar. Do meu apreço por sacos e pássaros sabe a minha amiga e com esse presente me provocou acomodando-o discretamente por detrás das palavras mágicas pintadas no vidro, certa de que ele e eu nos olharíamos com agrado. Não seria a sua casa definitiva, guardei-o no tal lugar onde os imprevistos o procurariam. Ficou vazio o frasco. Ou talvez não, pois parece-me que o invisível preserva o que desconhecemos e possui arte q.b. para preparar o composto do tal elixir desejado por todos nós. Não importa a língua em que é nomeado, cada um procura descobri-lo como pode e bebe-o de acordo com o seu paladar. Nem sempre tarefa fácil, por vezes a sombra ofusca a luz, sabemos isso por experiência própria. Neste caso, por exemplo, equilibrar o frasco na minha mão esquerda, qual aranha pronta a alimentar-se do que lhe cai na teia, e com a outra premir o botão da máquina fotográfica acoplada ao tripé, constituiu desafio moroso para conseguir uma imagem razoável. Não me admiro, se calhar a felicidade exige-nos disponibilidade para a encontrarmos entre os delicados fios de seda que vai tecendo com mestria para se abrigar do imponderável. 
M

5 comentários:

Justine disse...

O texto está muito belo, e a fotografia poderia ter ficado ainda melhor se conhecesses suficientemente bem a tua máquina para saberes utilizar o temporizador!
Vamos tratar disso em Maio?
Abracinho

Isabel disse...

Que bonito! O frasco e o texto!

Beijinhos)

jorge esteves disse...

Sempre achei que os elixeres são, de facto, poções mágicas, seja qual for a sua finalidade. Assim uma espécie de coisa que não é, mas que a gente faz de conta que é, para ver o que seria se fosse. Não achas?...
abraço.

jorge

Anónimo disse...

Um dia destes, um amigo (por acaso acima) falava dos "robertos", teatrinhos de jardim que (nos)encantavam. Suponho que mais de 60 anos depois, teríamos visto os mesmos, no mesmo jardim da Cordoaria...A magia não é equilibrável... acontece pelas mais-menos pequenas coisas, os olhos que olham, um sentir, como um raio de sol ou uma oferta dirigida ao coração. Ou um gesto. Há quem tenha um saco desses, com desenhos orientais, para lhe dar conforto nos apertos das compras e "para não pagar sacos". Também oferta de amiga.
O sabor do que é intemporal é (quase) mágico.
Abç da bettips

jorge esteves disse...

Onde andes, andes bem!
abraço.
jorge